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Portugueses preparam-se para indigestão à hora do jantar

03 mai, 2013

Mais austeridade e mais cortes na função pública é o que se espera do discurso de Pedro Passos Coelho, às 20h00. “Um ataque ao Estado” e aos trabalhadores, prevêem os sindicatos.

Portugueses preparam-se para indigestão à hora do jantar
Horário de trabalho aumentado, redução nos salários, aumento da idade da reforma e cortes na saúde educação e nas prestações sociais são medidas que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, deve anunciar esta sexta-feira, à hora do jantar, com vista a reduzir a despesa do Estado em 4,7 mil milhões de euros até 2017.

Em resumo, os trabalhadores do Estado vão trabalhar mais e receber menos. O aumento do horário de trabalho para as 40 horas semanais e a redução dos dias de férias deve ser outra das novidades. Deste modo, são poupadas horas extraordinárias e reduzidas as contratações.

Como foi revelado no Conselho de Ministros de quinta-feira, vai ser imposto um limite de 18 meses de permanência na mobilidade especial, podendo os trabalhadores excedentários sofrer um corte de 66% no salário.

Admite-se, por outro lado, a revisão da estrutura salarial e o anúncio de mais descontos para a ADSE, passando dos actuais 1,5% para 2,5%.

Pedro Passos Coelho poderá ainda comunicar medidas que podem levar os novos pensionistas a ser abrangidos por mais cortes, como, por exemplo, alterar o modo de cálculo do factor de sustentabilidade a partir do próximo ano.

A tudo isto devem somar-se os anunciados cortes de despesa na educação, saúde e prestações sociais.


“Deixem-nos trabalhar!”, pedem os sindicatos
Os sindicatos da função pública reagem com indignação ao pacote de mais austeridade.

“O que vai acontecer é que o Governo vai tentar empurrar os trabalhadores para a rescisão por intermédio da pressão que já hoje está colocada sobre eles. Deixem-nos trabalhar, deixem de perseguir os trabalhadores da administração pública e criem condições para que possam ser prestados melhores serviços às populações”, pede o dirigente da Frente Sindical da Administração Pública (FESAP), José Abraão, em declarações à Renascença.

“Mais parece perseguição com esta cegueira da poupança e do corta-corta, acabar por se traduzir num recuo civilizacional, que não faz sentido algum, porque vai continuar esta espiral recessiva”, sentencia.

A sindicalista Helena Rodrigues, do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), faça, por seu lado, em ataque ao Estado e prevê a dimensão dos cortes não vai atingir apenas o sector público.

“Agora, anuncia-se para estes, mas vai acontecer também aos outros. Não passam por entre pingas da chuva, com certeza. É claramente um ataque ao Estado. Ao atacar os seus trabalhadores, ao tirar-lhes condições, ao reduzir-se remunerações, é com certeza um ataque àquilo que são as funções do Estado; é retirar-lhes condições de exercício da sua actividade”, critica.

“Mas é também qualquer coisa de incompreensível. Este Governo diz que quer um novo pacto, um novo acordo com os parceiros sociais e depois não conversa com eles sobre nada. Mas com certeza que os parceiros sociais não podem aceitar estas medidas”, conclui.

Da parte dos patrões, o dirigente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, considera aceitáveis algumas medidas, tendo em conta o que já foi feito no sector privado.