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"Bancos são piores do que a máfia"

30 abr, 2013 • Sandra Afonso

Louis Ferrante, antigo mafioso, é agora um guru da gestão. Acaba de lançar um livro e explica porque não gosta da banca: "Quando eu estava na máfia, nunca emprestávamos dinheiro a quem não conseguia pagá-lo".

"Bancos são piores do que a máfia"
Louis Ferrante pertenceu à família Gambino, uma das cinco da máfia norte-americana, que recusou incriminar. Chegou a assaltar camiões com mais de 100 mil dólares de mercadorias, mas agora escreve livros e dá conselhos na televisão sobre gestão - já foi mesmo orador convidado da "Economist". É autor de um livro com título politicamente incorrecto -  "Aprenda com a máfia" - e tem uma opinião acutilante sobre o mundo financeiro: "Os bancos são piores do que a máfia".

Louis Ferrante diz continua a aplicar tudo o que aprendeu e afirma que o mundo legítimo dos negócios não é muito diferente da "Cosa Nostra". "Vejo todos os dias muitas semelhanças entre o mundo dos negócios e os negócios de rua da máfia. Foi essa a inspiração do livro. A única diferença é que, infelizmente, muitas vezes a máfia faz as coisas melhor e de forma mais honrosa do que as pessoas na sociedade", diz à Renascença.

Sem papas na língua, Louis Ferrante diz que a banca é ainda mais mafiosa do que a própria máfia. "Durante a crise económica, muitos bancos deixaram as pessoas sem nada e nem se importaram com isso. A máfia nunca faria isso. Eles sabem que não podem ganhar dinheiro com as pessoas se elas não tiverem nada."

Louis Ferrante sustenta ainda que a máfia "nunca retiraria ninguém de casa - iria preferir ajudar o tipo a manter os pagamentos". "Quando eu estava na máfia, nunca emprestávamos dinheiro a quem não conseguia pagá-lo." O antigo membro da família Gambini acrescenta que "há muitas semelhanças com a banca, mas também há muitos aspectos em que a máfia é melhor".

Manter a palavra
No livro que chega agora a Portugal, Louis Ferrante apresenta 88 técnicas de gestão para trabalhadores, quadros intermédios e patrões. Na base de cada uma das lições está o código de honra da máfia, "a mais antiga empresa em funcionamento no mundo".

O primeiro conselho parece encomendado para o caso português, onde o desemprego está em máximos históricos. Ferrante apresenta a fórmula infalível para se ser contratado: trabalhar não por um ordenado, mas por parte do lucro. "Se entrarem numa empresa e disserem que não querem um salário, mas uma oportunidade para fazer a empresa ganhar dinheiro, poucos dirão que não - a maior parte vai contratar. É como funciona a máfia: trabalhamos à comissão, damos parte do que ganhamos à família."

Louis Ferrante fala com confiança, a mesma que reivindica a quem quer emprego. "Aposto que se fosse amanhã a Manhathan, com um pouco de ambição conseguia cinco ou seis empregos onde outros diriam que não conseguem." Outra palavra-chave é humildade: "Neste tipo de economia não podem fazer exigências".

Depois de conseguir o emprego, há que mantê-lo. Também neste capítulo há regras obrigatórias. "Quando dás a tua palavra tens que a manter, construir uma boa rede de contactos, ter cuidado com a cama que se faz. As pessoas criam inimigos todos os dias só por falarem em conversas informais, porque não sabemos quem é quem e tudo se pode virar contra nós."

"Transformar lixo em ouro"
No livro "Aprenda com a Máfia", Ferrante defende ainda as virtudes da memória face às tradicionais notas e aos apontamentos. O ex-mafioso aconselha também aos profissionais que tenham as contas em dia com o fisco e com credores: recomenda paciência e contenção nas palavras e olho para as oportunidades, meio caminho para "transformar lixo em ouro".

"Motivar as tropas" e saber ouvir são dois conselhos deixados aos quadros médios. Ferrante escreve que "até a ideia mais simples pode mudar a nossa forma de fazer negócios - algumas mudaram efectivamente o mundo".

Aos patrões, a sugestão a reter é que ponham a mão na massa. "Um bom patrão é alguém que já lá esteve e que já fez o mesmo. É alguém que está disposto a sujar-se, a arregaçar as mangas e a fazer o mesmo que os funcionários. Os melhores padrinhos na máfia foram os que estavam por perto, comunicavam com a família e tinham os pés na terra. Qualquer patrão ou administrador que faça o mesmo irá longe."