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Guia de perguntas e respostas para as dúvidas sobre os exames do 4º ano

29 abr, 2013

Muitas vezes, os pais estão mais ansiosos que os alunos e isso pode contagiar os filhos. Renato Paiva, especialista com obras publicadas, desvaloriza a importância da nota, considerando que o importante nestes exames é a experiência.

Os exames nacionais para os alunos do 4º ano começam já na próxima semana. Ao longo dos últimos dias, a Renascença convidou os pais a enviarem questões sobre as dúvidas que têm relativamente a estes exames, que foram respondidas por um especialista. Renato Paiva é director da Clínica da Educação em Lisboa e tem obras publicadas sobre o assunto. 

[Questão do ouvinte João Carlos Correia, de Lisboa] Um aluno com nota 4 na avaliação tem que ter nota igual ou superior a 3 no exame para não ter que o repetir na segunda fase?
Tendo 25% de ponderação, a descida nunca é muito significativa. Portanto, se tiver má nota, a descida não será muito significativa - é quase nula.

[Questão da ouvinte  Teresa, de Odivelas] Se na primeira fase do exame de Matemática o meu filho tiver nota 2 e na avaliação sumativa interna tiver 3, tem de repetir o exame de matemática na segunda fase, apesar de na pauta já constar que está aprovado?
À partida, não será preciso. Não é conclusivo nesse sentido, mas é curioso porque as pessoas estão muito preocupadas com a nota em si. Quando olhamos só para a meta, percebemos que as ansiedades são mais dos pais que dos miúdos. Nos miúdos, isso traduz-se na ideia que o exame é um bicho papão.

[Questão da ouvinte Paula Alves, de Lisboa] Será que os miúdos que têm de sair das escolas onde andam para fazer o exame não são prejudicados? O meu sobrinho anda num colégio particular, de onde nunca saiu, e vai fazer o exame numa escola pública, enquanto a minha filha faz exame onde estuda. Não faz diferença tirar os miúdos da sua zona de conforto?
Acho que não. É uma questão mais logística. Se o aluno estiver bem preparado, não é por aí. Pode complicar um bocadinho a logística. Quando se habituarem a prestar uma prova, que pode ser de outro género qualquer, o local será o menos importante. O mais importante é a orientação que têm e a preparação que têm para a mesma. O importante é o modo como se preparam os alunos.

[Questão da ouvinte Mariana Arrobas, de Sintra] Até que ponto o facto de os alunos fazerem o exame juntamente com dezenas de alunos que não conhecem representa uma distracção ou um factor de nervosismo acrescido para uma criança com apenas 10 anos?
O aluno também está inserido numa turma num contexto de grupo. Seria utópico pensar que conseguíamos condições ideais para cada aluno. É uma questão de adaptação. Assusta por os miúdos terem apenas 10 anos, mas de facto é uma questão de hábito. Deve-se tirar a pressão, dizendo que é uma questão de rotina para a qual têm de estar preparados - isto atenua esse nervosismo. O importante é fazer treinos de simulação, com tempo cronometrado, com condições parecidas e com perguntas próximas ao que vão encontrar.

[Questão da ouvinte Ana Esteves, de Colares] Qual é a melhor maneira de estudar para estes exames? Temos dois livros de testes que temos estado a fazer com a nossa filha. Sugere outras formas?
A melhor maneira de estudar é ensinar. Se um aluno conseguir ensinar a matéria a outra pessoa, é porque consegue compreendê-la - percebe-se assim facilmente se é uma coisa compreendida ou decorada. Se há um bloqueio, e se tudo o resto falha quando uma palavra falha, isso é típico de quem estuda com base na memorização. É importante que os pais responsabilizem os alunos por um momento de avaliação, mas não é o fim do mundo. É um processo que se vai repetir e é uma preparação para quando for efectivamente a doer. Preparamo-nos melhor conforme a experiência que vamos acumulando.

[Questão da ouvinte Fátima Moreira, de Faro] Devo dar-lhe recompensas quando tem boas notas? E o que devo fazer quando os resultados são fracos porque não se empenhou?
Por norma, quando os alunos se habituam a ter uma recompensa, parece que trabalham em função disso. A recompensa deve ser também emocional. As recompensas dependem da criança. Se são crianças com dificuldades de aprendizagem, pode ser um incentivo que funciona bem, mas devemos habituá-los a que as recompensas e os castigos sejam mais a médio e longo prazo do que imediatos. Não dar um prémio pelo exame em si, mas sim pelos resultados no final do ano, pelo empenho e dedicação, por melhorias notadas. Nem sempre a dedicação conduz a resultados melhores e quando só se premeia o resultado imediato há o perigo de os alunos não sentirem que o percurso e o esforço são valorizados.

[Questão da ouvinte Antónia Soares, de Viseu] Será que os pais devem dar muita importância aos exames e criar um 'stress' acrescido nos miúdos ou é melhor tratar o assunto como se fosse apenas mais um teste?
É só mais um teste, é natural e faz parte do processo. Muitas vezes, quando falamos com os miúdos, eles estão mais tranquilos que os pais. Não é que não sintam que é um elemento de responsabilidade. O 'stress' é bom, em demasia é que é mau. O facto de perceberem que têm de passar por essa etapa, que faz parte da vida, que têm de estar no seu auge, é algo que também lhes faz bem como preparação para a vida. 

 
A ansiedade dos pais
Renato Paiva desvaloriza a questão das notas destes exames e salienta a importância formativa dos mesmos.

"Descaracterizava o peso percentual para realçar a responsabilidade de ter que fazer uma prova. Depois do 4º haverá também exames no 6º e 9º anos e depois no secundário. Os alunos devem perceber que é importante prestar provas. A questão das notas não é assim tão grande, sobretudo porque a maior parte da ansiedade é dos pais e não dos filhos”, diz.

O especialista recorda que estes testes não são feitos pelo professor da turma e que é importante ter atenção às questões, uma vez que a mesma matéria pode ser abordada de outros modos.

A forma como o aluno reage ao exame pode ser útil na preparação para o futuro. "Pode ajudar a delinear e orientar caminhos. Se percebemos que o aluno falha em momentos de responsabilidade, podemos ir trabalhando as competências de gestão comportamental e de desempenho para evitar problemas mais à frente. A preparação passa também pelo controlo emocional."