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FMI alerta Portugal para uma fuga irreversível dos jovens qualificados

20 nov, 2012

Uma das entidades que compõe a "troika" diz que a carga fiscal veio para ficar e que o país tem de contornar "obstáculos enraizados ao crescimento".

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que a lenta recuperação económica em Portugal pode ter um impacto significativo no elevado desemprego, levando à emigração de jovens qualificados. Segundo o FMI, este fenómeno pode não ser reversível.

"Um risco no médio prazo é que o crescimento económico recupere demasiado devagar para ter um impacto significativo no elevado desemprego, levando à emigração significativa de jovens trabalhadores qualificados, que pode ser difícil de reverter", afirma o FMI num documento revelado esta terça-feira.

Neste sentido, o Fundo defende que, a longo prazo, Portugal terá de fazer mais progressos para contornar "obstáculos enraizados ao crescimento". O FMI nomeia em particular os "ainda baixos níveis de educação face aos principais competidores e parceiros comerciais".

A taxa de desemprego, factor que o FMI toma em consideração para alertar para a fuga da geração qualificada, é actualmente de 15,8%, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística. As previsões para os próximos anos não são optimistas.

De acordo com os dados divulgadas segunda-feira pelo ministro das Finanças, só em 2015 é que a taxa baixa para valores inferiores aos actuais. O desemprego deve continuar a aumentar no próximo ano, para um máximo de 16,4%. A inversão desta tendência de subida, segundo Vítor Gaspar, deve começar em 2014, ano em que as previsões anunciadas pelo ministro apontam para um recuo até aos 15,9%, número que é superior ao actual.

Em 2015, e segundo o ministro das Finanças, "o desemprego deverá diminuir para 15,3%". No ano seguinte, deve situar-se nos 14,8%.

Carga fiscal veio para ficar
Por outro lado, o FMI considera que é difícil reduzir a carga fiscal em Portugal nos próximos anos. Ainda assim, o Fundo refere que há "margem de manobra para reduzir distorções fiscais e simplificar o sistema fiscal".

"As despesas fiscais podem ser ainda mais racionalizadas, enquanto os actuais incentivos fiscais têm de ser tornados mais eficazes e reorientados para actividades do sector transaccionável", escreve o FMI.

Em 2013, os contribuintes vão pagar mais impostos em Portugal. A diminuição dos escalões de IRS de oito para cinco implica um aumento dos montantes a pagar. Por outro lado, o Governo impôs o pagamento de uma sobretaxa de IRS de 3,5%, que acentua a subida dos impostos. Para testar o seu caso em concreto, pode saber mais AQUI.

O Fundo Monetário Internacional também defende que Portugal tem de cortar mais os salários da função pública. "A despesa orçamental, particularmente em salários com funcionários públicos e prestações sociais, aumentaram durante muitos anos, com uma fraca ligação aos objectivos do Estado e à alocação dos recursos do Orçamento. O principal foco terá de ser racionalizar ainda mais os salários e o emprego na função pública, assim como reformar pensões e outras prestações sociais."

Segundo o FMI, este ajuste deve ser feito para que haja serviços públicos mais eficientes e uma redistribuição mais equitativa.