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Economistas dizem que Portugal vai precisar de mais dinheiro

07 nov, 2011

Especialistas falam na necessidade de mais 20 ou 25 mil milhões de euros. “Troika” está hoje em Portugal para avaliar os progressos do acordo.

O antigo ministro Bagão Félix e o economista João Ferreira do Amaral acreditam que Portugal pode vir a pedir mais ajuda financeira às instituições europeias e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A dívida das empresas públicas é um dos motivos.

“Quando foi assinado o memorando de entendimento, já podíamos ter pedido mais cerca de 20 ou 25 mil milhões de euros, que é a parte que as empresas públicas que estavam a ser financiadas pelo mercado externo não conseguem no mercado interno”, justifica o antigo ministro das Finanças, Bagão Félix, em declarações à Renascença.

Na mesma linha, João Ferreira do Amaral considera que a prioridade na aplicação do dinheiro deve ser o financiamento destas empresas – “ou seja, a possibilidade de canalizar financiamentos para pagar a dívida das empresas públicas à banca, para aliviar um pouco o sistema bancário". "Penso que é esse um dos ajustamentos que o primeiro-ministro tentará fazer", diz João Ferreira do Amaral. 

Mas a possibilidade de ter de vir mais dinheiro depende também da cobrança de impostos, o que ainda é difícil prever, refere o economista João Ferreira do Amaral, para quem não há, para já, justificação para “uma grande alteração do que foi acordado”.

O que não quer dizer que não haja mudanças. Bagão Félix dá um exemplo: “A redução substancial da taxa social única, que era um absoluto disparate”.

“Isto não é ortodoxia absoluta e acho que, a haver eventuais futuras alterações, quer quanto ao montante, quer quanto a prazos, quer quanto a outras condições de que Portugal possa ter necessidade, devem colocar-se depois de o Governo português dar provas de que está a haver um cumprimento adequado do acordado com a ‘troika’”, defende ainda o ex-ministro.

Hoje, os membros da “troika” regressam a Portugal para a segunda revisão trimestral ao plano de assistência económica e financeira. Durante duas semanas, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia vão avaliar se tudo está a correr como previsto e quais os planos para os próximos tempos.

Ao que a Renascença apurou, ao contrário da primeira avaliação, em que os líderes das respectivas missões só se juntaram à comitiva no final dos trabalhos, desta vez Poul Thomsen (FMI), Rasmus Ruffer (BCE) e Juergen Kroeger (Comissão Europeia) vão acompanhar toda a análise às contas nacionais.

E não faltará o que analisar…
Além da execução orçamental, a “troika” vai estar atenta à situação das empresas públicas, ao dinheiro que precisam para se financiarem e aos planos de redução de custos. Destaque ainda para a situação da Madeira e da banca, que também vai ser analisada pelos técnicos internacionais.

Em estudo vai estar também o levantamento das contas que o Estado tem em atraso e como pensa pagá-las. O levantamento das principais parcerias público-privadas está feito, mas continua a ser conhecido apenas pelo Governo e credores internacionais.

O Executivo também já concluiu a revisão das taxas moderadoras e já avançou com alterações à reabilitação urbana, mas falta a reforma da lei do arrendamento, prometida para o final do ano.

Está ainda prevista, mas não concluída, a transferência do fundo de pensões da banca para a Segurança Social.

A questão da flexibilidade do memorando de entendimento deve ser outra questão em cima da mesa. Tanto o primeiro-ministro como Presidente da República já defenderam publicamente a necessidade de ajustamentos.

Na primeira avaliação, concluída na primeira quinzena de Agosto, Portugal recebeu nota positiva, mas com algumas advertências. A “troika” mostrou-se preocupada com o risco de desvios orçamentais, porque o dinheiro orçamentado pode não chegar para pagar os salários e as receitas com impostos podem ficar aquém do previsto.

Dentro de duas semanas, Portugal vai saber se passou de novo no teste.