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Como pode Portugal ser afectado pela turbulência nas bolsas?

25 ago, 2015

Nem Wall Street escapou à “segunda-feira negra”. Sinais de que o Ocidente está preocupado com o desempenho da China, a segunda maior economia do mundo.

Como pode Portugal ser afectado pela turbulência nas bolsas?
A Bolsa de Xangai, na China, voltou a abrir no vermelho esta terça-feira, depois de uma verdadeira “segunda-feira negra” nos mercados. As perdas iniciais desta manhã rondavam os 6%.

As quedas reflectem uma desaceleração na economia chinesa, o que afecta grande parte do mundo e deixa preocupado o Ocidente.

Mas como pode a instabilidade económica chinesa afectar a economia portuguesa?
Para responder, é importante recordar o volume de exportações para a China e o significativo aumento de investimentos chineses em terras lusas.

Portugal é o quarto país com maior volume de investimento chinês (a seguir ao Reino Unido, Alemanha e França) e o interesse tem crescido desde 2012. Tudo começou com a compra de mais de 21% do capital da EDP pela China Three Gorges.

Nos últimos três anos, o montante do investimento chinês em Portugal ultrapassou os 10 mil milhões de euros. Os negócios estendem-se agora à banca: a seguradora Anbang está em negociações exclusivas com o Banco de Portugal para fechar a compra do Novo Banco. O grupo chinês oferece 3,5 mil milhões de euros.

De cá para lá, no campo das exportações, portanto, o movimento também é ascendente. Os dados mais recentes da AICEP revelam que há mais de 1.100 empresas portuguesas a exportar para a China e que, nos últimos quatro anos, o número de marcas nacionais no mercado chinês cresceu 47%, com um volume de facturação que já ultrapassa os mil milhões de euros.

A segunda maior economia do mundo tem um mercado interno de 1,4 mil milhões de habitantes e ocupa o segundo lugar no ranking mundial em Produto Interno Bruto. Condições que fazem da China um mercado apetecível para as empresas portuguesas que procuram diversificar clientes.

Os dados oficiais confirmam que, de 2010 a 2014, a China passou de 21º para 10º lugar no “ranking” de clientes de Portugal. O sector automóvel lidera a exportações.

Na opinião do economista João Ferreira do Amaral, mesmo sendo prematuro avaliar o efeito da instabilidade chinesa na economia nacional, o sector das exportações deverá ser o mais lesado.

Uma preocupação global
As quedas a que assistimos na segunda-feira nas bolsas mundiais reflectem as preocupações do Ocidente quanto ao desempenho da segunda maior economia do mundo.

Xangai registou a maior queda diária em mais de oito anos (fechou a perder 8,49%) e as perdas alastraram-se às principais praças financeiras da Ásia, da Europa e chegaram depois à norte-americana Wall Street.

Esta terça-feira, a Bolsa de Xangai abriu e fechou a cair. A sessão encerrou a perder 7,63%.

Por calcular está ainda o impacto da injecção no mercado interbancário de mais de 20 mil milhões de euros, por parte do Banco Central chinês, ainda antes da abertura das praças.

João Ferreira do Amaral refere, em declarações à Renascença, que existem mecanismos ao dispor das autoridades financeiras, como o banco central da China, para evitar o contágio à economia real. O problema, adianta, será quando esta crise financeira impedir os bancos de conceder crédito, mas há meios para impedir até porque o mercado financeiro chinês é fortemente regulado.

Quanto à Bolsa de Tóquio, que abre antes da da China, começou esta terça-feira com perdas de quase 2%, chegou a “afundar” mais de 4%, mas acabou por recuperar a meio da sessão, com ganhos de mais de 1%.

Em Lisboa, a Bolsa abriu a valorizar 1,22%, seguindo a tendência das principais praças europeias. EDP, Galp e Jerónimo Martins, acompanhados pelo sector financeiro lideram os ganhos.