Emissão Renascença | Ouvir Online

Novo Governador

Morais Sarmento arrasa recondução de Carlos Costa. "Medalhas dão-se no 10 de Junho"

26 mai, 2015

O antigo ministro do PSD critica a renovação do mandato do governador do Banco de Portugal, a quem não poupa críticas na gestão do caso BES. Medina Carreira ou Almerindo Marques seriam nomes com o perfil ideal para o cargo.

Morais Sarmento arrasa recondução de Carlos Costa. "Medalhas dão-se no 10 de Junho"
O antigo ministro do PSD critica a renovação do mandato do governador do Banco de Portugal, a quem não poupa críticas na gestão do caso BES. Medina Carreira ou Almerindo Marques seriam nomes para o perfil ideal para o cargo, afirma no programa "Falar Claro" da Renascença.

Carlos Costa não tem condições para ser reconduzido no cargo de governador do Banco de Portugal, afirma Nuno Morais Sarmento em declarações ao programa “Falar Claro” da Renascença.

O antigo ministro do PSD ironiza: Se o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, quer premiar Carlos Costa, deve propor uma condecoração no 10 de Junho.

“Salvo se existirem razões que desconhecemos, que recomendem a continuidade da mesma equipa, do mesmo governador, para que processos em curso não sejam interrompidos, eu penso que, por aquilo tudo o que se passou…  As medalhas dão-se no 10 de Junho. Se Pedro Passos Coelho quer dar uma medalha a Carlos Costa, dá-lhe no 10 de Junho ou propõe ao Presidente que lhe dê no dia 10 de Junho.”
 
Ataque cerrado no caso BES
Morais Sarmento critica a falta de resposta do Banco de Portugal à proposta de substituição da administração de Ricardo Salgado, que antecedeu o colapso do Banco Espírito Santo (BES).

Para o comentador social-democrata, “o problema está que essa decisão surge 45 dias mais tarde” e foi nesse período “que desaparece mais de 50% do valor do Grupo Espírito Santo”.

“Tudo aquilo que nos impressiona tanto que os responsáveis do Grupo Espírito Santo alegadamente fizeram, que representou um buraco de uns milhares de milhões de euros, é cinco ou seis vezes inferior ao valor que se destruiu durante esses 30 dias e ninguém pede responsabilidades sobre isto”, prossegue Sarmento, alegando inacção do Governador do Banco de Portugal.

“O Banco de Portugal não disse nem água vai nem água vem. O banco ficou numa situação, como se diz em bom português: ‘nem o pai morre, nem a gente almoça’ . Até hoje, nunca vi da parte do Banco de Portugal e do governador Carlos Costa uma justificação. Para já, foge ao tema, nunca respondeu ao tema assim colocado. Quanto a este período que antecede a decisão, até hoje não vi justificação que fosse convincente e é aí que está 50% do valor do GES”, critica o antigo ministro social-democrata.

Um grande problema do país
Menos definitivo é o socialista Vera Jardim, que chama a atenção para as falhas do próprio enquadramento legal de supervisão bancária.

“A culpa não é toda de Carlos Costa. Não tenho uma visão muito exacta de como é que se repartem as culpas aqui. Não estou a falar das culpas da administração do banco, isso está fora de hipótese. Falo das falhas do próprio sistema legal, da forma como está concebido”, assinala o antigo ministro da justiça.

“Temos um problema de supervisão, mas não só no Banco de Portugal. Vou mais longe. Deveríamos rever rapidamente o que está mal nas supervisões em Portugal, porque esse é um dos grandes problemas do país”, adverte o comentador socialista, que reconhece que Carlos Costa foi avaliado aquando da comissão parlamentar de inquérito ao caso BES.

“Estamos aqui numa situação muito específica. Houve uma avaliação recente, que está escrita. Tem várias críticas à forma como o Banco de Portugal geriu o processo, críticas subscritas pelos partidos da maioria e não sei como as coisas vão ser feitas. Nestes casos sou partidário de compromissos amplos, tão amplos quanto possíveis, pelo menos entre os principais partidos”, defende Vera Jardim .

Nuno Morais Sarmento concorda com o “alargamento do entendimento sobre a escolha dessa personalidade ao maior partido da oposição, de uma forma mais ou menos obrigatória”.

Por isso, o antigo ministro considera que o PSD criou um problema a si próprio. “Manifestou uma posição que me parece correcta mas depois, por razões que ainda não percebemos bem, o processo está um bocadinho embrulhado. Não a quer aplicada para esta recondução ou para esta escolha”, conclui o social-democrata que insiste não concordar com um “Carlos Costa II”.

“A minha pergunta é: Existe uma clara coincidência, unanimidade e leitura positiva do mandato de Carlos Costa? Não. Então eu acho que, por esta simples razão, também no que respeita às circunstâncias para lá da minha avaliação, elas não se reúnem para que Carlos Costa seja reconduzido”, sublinha Morais Sarmento.
 
Medina e Almerindo “têm perfil”
O antigo ministro do PSD adianta mesmo dois nomes alternativos ao de Carlos Costa, dado como garantido no cargo pelo próprio Morais Sarmento.

“Sabe quem é que eu lá punha agora, nesta altura, para ver se o país entrava a sério? Medina Carreira. Ele já esteve ligado, não são funções que ele desconheça. Era um perfil mais desse tipo de que eu gostaria agora. Não é um homem cinzento, almofadado na lei, sempre a defender, sem questionar a tradição e os silêncios, que deram no que deram. Eu gostava mais de um perfil de alguém que se chegasse à frente. Dou outra alternativa, se ele ainda estivesse no activo para essas funções: Almerindo Marques fá-lo-ia também. Estou a dizer-lhe o perfil de pessoas que levam as coisas a sério…”

Vera Jardim discorda: “Não era o meu perfil de pessoas”. O socialista admite que alguma turbulência na banca nacional pode estar na base da opção pela recondução de Carlos Costa.

“Há problemas com o sistema bancário português. Nalguns bancos, não em todos, mas há problemas que merecem a tenção do Banco de Portugal. Não estou a dizer que os bancos vão falir amanhã! Um entendimento entre os vários partidos, pesando prós e contras de uma nomeação do doutor Carlos Costa, seria ainda mais importante do que um caso normal”, remata o antigo ministro socialista.