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Vera Jardim aprova imposto sobre heranças. Lembra que Bloco era contra em 2003

28 abr, 2015 • José Pedro Frazão

O antigo deputado socialista elogia o cenário macroeconómico do PS, mas deixa reservas sobre o ritmo da subida prevista do investimento. José Eduardo Martins diz que Portugal precisa da imigração para salvar a Segurança Social.

Vera Jardim aprova imposto sobre heranças. Lembra que Bloco era contra em 2003
O antigo deputado socialista elogia o cenário macro-económico do PS mas deixa reservas sobre o ritmo da subida prevista do investimento. José Eduardo Martins diz que Portugal precisa da imigração para salvar a Segurança Social.

O antigo ministro da Justiça Vera Jardim saúda a reposição de um imposto sucessório, proposto para heranças superiores a um milhão de euros. A ideia está no cenário macroeconómico apresentado por um grupo de economistas convidados pelo PS.

“Gosto do imposto sucessório, mas isso é uma luta minha de há muitos anos. Em 2003, rebelei-me dentro do meu partido contra o fim do imposto sucessório, embora haja estudos imensos dizendo que o efeito de redistribuição não é ilimitado, a não ser que fossemos para impostos sucessórios quase ao nível a expropriação”, afirma Vera Jardim no programa “Falar Claro” da Renascença.

“Acho que um país como o nosso, com as desigualdades que temos, é um dos poucos na Europa que acabou com o imposto sucessório. Nunca percebi isso. Rebelei-me contra isso. Isso foi votado, aliás, pelo Bloco de Esquerda. Tive até uma discussão com algumas pessoas do Bloco a esse propósito”, recorda o ex-deputado socialista na edição desta semana do “Falar Claro”, que contou esta semana com a presença do social-democrata José Eduardo Martins.

A este propósito, o militante do PSD sublinhou que “como princípio, é uma excelente medida de redistribuição da riqueza”.

Vera Jardim elogia os contributos do plano macroeconómico pedido pelo PS, mas reconhece que alguns pontos merecem reservas.

“Estou em crer que eles próprios, naturalmente, têm algumas dúvidas sobre algumas dessas coordenadas. Uma delas é a subida do investimento. Eu acredito que o investimento vá subir. Será difícil é que suba tão depressa”, diz o antigo ministro socialista, baseando-se em diversos factores que elenca de seguida.

 “Sabemos da situação das nossas empresas subcapitalizadas, sabemos como está a situação do crédito, o investimento directo estrangeiro que caiu enormemente nos últimos anos. O que se mantém são investimentos de empresas que já cá estão e que vão aumentando a sua capacidade produtiva mas, mau grado os discursos e os esforços do doutor Paulo Portas, a verdade é que essa é uma derivada que nos coloca algumas questões”, afirma Vera Jardim.

O preto e branco que prejudica
O antigo secretário de Estado do PSD José Eduardo Martins diz que existiriam benefícios numa síntese dos planos económicos do PS e da maioria.

“Se não houvesse eleições, alguém estaria a fazer pontes entre estes dois programas e a aproveitar o melhor de ambos. Como há eleições, os agentes políticos vão querer sublinhar as diferenças. Do maniqueísmo resulta muito pouco esclarecimento. Não há aqui bom e mau, preto e branco [mas] esta discussão vai ficar, um bocadinho, no bom e mau e no preto e branco nos próximos tempos.”

Ainda assim, o social-democrata, actualmente desalinhado com a estratégia da liderança de Passos Coelho, acredita que o plano de reformas de PSD e CDS tem mais sentido que os cenários do PS.

“Apesar destes quatro anos de austeridade e sacrifícios, acho que a coligação tem a seu favor vários factores da conjuntura, mas alguns estruturais, que é a prudência, em geral, dos portugueses, para poder pôr em cima da mesa um caminho mais prudente e menos experimentalista do que o caminho do Partido Socialista e, ainda assim, conseguir ganhar eleições.”

Imigração a favor das pensões
Noutro plano, o antigo deputado do PSD defende uma aposta decisiva na atracção de imigrantes para equilibrar as contas da Segurança Social.

“Nestes dez anos em que tenho pensado nisso, nós vamos na terceira reforma da Segurança Social. Estávamos todos convencidos que a reforma de Vieira da Silva, que o PSD em geral apoiou, tinha sido uma reforma estruturante e decisiva na Segurança Social, [mas] cinco anos depois estamos confrontados com outra. É a prova de que o mundo muda muito depressa”, começa por referir.

Para José Eduardo Martins, “há uma coisa que nenhuma Segurança Social resiste: a um país com metade dos seus concelhos, das suas jurisdições administrativas, praticamente desertas, sem pessoas”.

“Sem esta inversão do enorme problema demográfico que Portugal tem - e que ambos os programas dos partidos falam muito pouco, até agora - sem a capacidade de atrair imigrantes… Nós precisamos de muita gente nova, de muita gente com força, de muita gente de fora. Não devíamos olhar para o que se passa no Mediterrâneo erguendo muros, mas sim chamando pessoas para estes 160 concelhos de Portugal que estão desertos”, remata o social-democrata.