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Granadeiro. “Milhares de accionistas da PT foram severamente lesados”

04 mar, 2015

Antigo líder da PT acrescenta: "Quisemos voar alto, mas o sol queimou-nos as asas".

Granadeiro. “Milhares de accionistas da PT foram severamente lesados”

O ex-presidente da Portugal Telecom (PT), Henrique Granadeiro, fechou a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES a admitir que a operação de fusão com a Oi acabou por ser um fracasso, prejudicando milhares de accionistas.

"Nós quisemos voar alto, mas o sol queimou-nos as asas", afirmou o gestor, visivelmente emocionado, depois de ter pedido a palavra ao presidente da comissão, Fernando Negrão, e agradecido aos deputados pela oportunidade.

"Deixo uma última palavra aos milhares de accionistas da PT que foram severamente lesados por uma opção estratégica que tinha tudo para correr bem, mas correu mal", lançou Granadeiro.

E admitiu: "Muita coisa falhou, como premonitoriamente afirmou a senhora ministra das Finanças em relação aos auditores e aos supervisores".

O responsável recuperou um episódio vivido na reunião magna de accionistas da PT em que foi aprovada a fusão com a operadora brasileira Oi, que visava criar um grande operador de telecomunicações lusófono.

"Recordo a euforia na assembleia-geral. O projecto era tentador. Estava pessoalmente convencido de que era um projecto interessante para a língua portuguesa. Nessa AG, com o tal entusiasmo com que foi votado esse projecto (99% a favor), lembro-me de quatro accionistas que tenazmente lutaram contra o projecto", realçou.

E nomeou os responsáveis em questão: Luís Rosa, Ribeiro Novo, António Oliveira, Francisco Gonçalves (da comissão de trabalhadores da PT) e Jorge Félix (de um dos sindicatos ligados à operadora).

"Fiquei admirado com a coragem deles de enfrentarem um ambiente hostil", reconheceu. E prosseguiu: "Cheguei a casa e questionei-me: `e se eles têm razão`?".

"Falo neles para invocar todos os outros que foram prejudicados por esta operação que, apesar de ser da minha responsabilidade, não é da minha culpa, ou pelo menos, totalmente da minha culpa", salientou.

E contou um episódio histórico, quando "Egas Moniz reconheceu perante o seu primo Dom Afonso Henriques que tinha falhado uma das promessas".

O herói português, primo do primeiro Rei de Portugal, terá então afirmado: "Desta vez errei, mas de todas as outras cumpri".

Granadeiro disse que "é com este sentimento" que quer "invocar os milhares de accionistas que tinham na sua carteira acções da PT".

E concluiu a sua intervenção final com "uma palavra de conforto" aos seus colegas do Conselho de Administração da PT, a quem, admitiu, deixou "uma tão pesada herança".

Foi com estas palavras do ex-presidente da PT que terminaram os trabalhos de hoje da comissão de inquérito ao caso BES/GES, numa audição que durou quase sete horas.

No final, nota para o facto de vários deputados de todos os grupos parlamentares que ficaram na sala até ao final da sessão (a deputada Mariana Mortágua tinha-se ausentado algum tempo antes, pelo que o Bloco de Esquerda foi a excepção) terem ido cumprimentar Granadeiro.