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FMI diz que Governo perdeu o ímpeto reformista e alerta para medidas "populistas"

30 jan, 2015 • Paulo Ribeiro Pinto

Ao longo de 60 páginas, os técnicos discordam das previsões económicas do Governo e, mais uma vez , fazem saber que não concordam com aumento do salário mínimo.

FMI diz que Governo perdeu o ímpeto reformista e alerta para medidas "populistas"
O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que o Governo perdeu o ímpeto reformista depois da saída da troika. No primeiro relatório pós-programa divulgado esta sexta-feira, o FMI teme que algumas medidas tomadas nos últimos três anos sejam revertidas, critica opções do executivo e faz previsões mais pessimistas para a economia portuguesa.

Para os técnicos do membro da troika, a actualização do valor do salário mínimo foi prematura e os seus efeitos podem ter exactamente o resultado oposto ao pretendido pelo Governo. Se Lisboa argumenta que o aumento de 20 euros pode estimular o consumo, dinamizar a economia e o emprego, o FMI acredita que vai prejudicar os mais jovens no acesso ao mercado de trabalho e os menos qualificados.

No relatório, o FMI diz mesmo que comparando com outros países, o salario de 485 euros não era assim tão baixo que justificasse a subida.

Mas esta é apenas umas das muitas críticas. Os técnicos insistem várias vezes, ao longo das quase 60 páginas, que o executivo perdeu a força nas reformas estruturais e até compreende que o período pré-eleitoral não é propício a iniciativas "arrojadas", esperando mesmo que a tentação para políticas mais "populistas" aumente.

O documento faz também notar que o Governo deveria adiar, o mais possível, a reversão total dos cortes salariais da função pública e das pensões prevista para 2016.

Governo demasiado optimista
O FMI também discorda das previsões económicas do Governo, acreditando que são demasiado optimistas e baseadas em grande parte na cobrança de impostos: o défice deverá chegar este ano aos 3,4%, ao contrário dos 2,7% do executivo, e só mesmo em 2018 é que fica abaixo da meta dos 3%.

O crescimento económico em 2014 deverá ter ficado nos 0,8% (duas décimas abaixo do Ministério das Finanças) e para este ano não deve ir além de 1,2% (quando o Governo aponta para 1,5).

O FMI volta a manifestar surpresa quanto à descida acentuada da taxa de desemprego, mas também diz que as estatísticas oficiais podem não reflectir toda a dimensão do desemprego no país.

Os técnicos ainda insistem na necessidade de cortar nas rendas excessivas do sector eléctrico, factor que, segundo o relatório, compromete a competitividade e o bem-estar das famílias.