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BCE vai comprar milhares de milhões de dívida. A minha vida muda?

22 jan, 2015 • Paulo Ribeiro Pinto e Inês Alberti

Por que é que esta decisão é histórica? As famílias e as empresas podem beneficiar da medida? Explicamos-lhe tudo.

BCE vai comprar milhares de milhões de dívida. A minha vida muda?
O Banco Central Europeu anunciou esta quinta-feira uma decisão histórica: a instituição liderada por Mario Draghi vai comprar dívida no valor de 60 mil milhões de euros por mês aos bancos dos países da Zona Euro.

Mas por que é que esta decisão é histórica? Por que é que as famílias e as empresas podem beneficiar da medida? E por que é que os mercados estrangeiros estão a reagir com optimismo à notícia?

Ao comprar dívida pública, o BCE vai dar dinheiro aos bancos, que ficam com mais capacidade para conceder créditos a privados (empresas e famílias) – essencialmente, o que Mario Draghi espera que aconteça.

Com a possibilidade de empréstimos de novo em cima da mesa, o poder de compra dos privados aumenta, assim como o consumo.

Subindo o consumo, sobem os preços e a inflação (que é o aumento generalizado dos preços) e afasta-se o perigo de deflação.
 
Mas qual pode ser o lado positivo da inflação? Normalmente este fenómeno é responsável pelo aumento proporcional dos salários e, novamente, do poder de compra e do consumo, que vão resultar no crescimento de uma economia mais forte e alivia o peso real das dívidas.

Esta última consequência resulta da valorização dos activos (por exemplo o valor da habitação sobe) e da diminuição real da dívida.

A robustez da economia é um dos factores que vai atrair o investimento externo.

O outro factor é a desvalorização do euro, que vai permitir aos estrangeiros comprar "mais barato" e aos países da Zona Euro aumentar as exportações.

A desvalorização do euro (neste momento o euro vale pouco mais que um dólar e 14 cêntimos; valia um dólar e 18 cêntimos antes do discurso de Draghi) é causada pela emissão da moeda, feita pelo BCE para permitir a compra da dívida pública.

É de referir ainda que a emissão de moeda também está, em teoria, associada ao aumento da inflação – que é o grande receio da Alemanha, que já passou por um período de "hiperinflação", após a Primeira Guerra Mundial.

Estão criadas as condições perfeitas para o investimento externo. É a expectativa deste interesse que está a causar a subida das bolsas europeias.

Já os juros da dívida pública estão a descer. Isto acontece porque, se as economias vão ficar mais fortes, o risco de incumprimento do pagamento da dívida diminui. Quanto maior o risco (por exemplo causada pela instabilidade económica e política de um país, como aconteceu com Portugal e Grécia no início da crise na Zona Euro), mais altas a taxas, para que os compradores recebam uma recompensa maior por terem corrido o risco.

Mas não há nenhum contratempo ou nenhuma consequência negativa resultantes desta medida? Pode acontecer que os activos desvalorizem, ou seja que o Banco Central Europeu vá a ter no seu balanço activos que valem menos do que quando os comprou.

Contudo, Mario Draghi não acredita que haja prejuízos porque confia que os bancos centrais nacionais têm uma boa reserva.