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Sobrinho, fez empréstimos a si próprio? "Não, isso seria impossível"

18 dez, 2014 • João Carlos Malta

Respondeu a Ricardo Salgado sobre o pavor da sua gestão e devolveu a acusação. Álvaro Sobrinho, ex-líder do BES Angola, nega aproveitamento pessoal.

Sobrinho, fez empréstimos a si próprio? "Não, isso seria impossível"
Álvaro Sobrinho negou esta quinta-feira ter recebido qualquer empréstimo do BES Angola (BESA), quer em nome individual, quer através de qualquer uma das suas empresas. O ex-presidente da comissão executiva do BESA garantiu ainda que é falso que não se saiba o paradeiro de 5,7 mil milhões de euros de crédito.

A deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua perguntou a Álvaro Sobrinho se as empresas Pineview e Newshold, propriedade do angolano, foram alvo de empréstimos por parte do BESA.

Na comissão parlamentar de inquérito sobre o fim do universo Espírito Santo, Sobrinho respondeu categoricamente que "não" para depois detalhar: "Angola tem uma lei que proíbe dar crédito a parte relacionada. Por isso seria impossível dar crédito a mim próprio".

Recorde-se que o "Expresso" escreveu que Rui Guerra, que substitui Sobrinho na liderança do BESA, apurou que a Pineview Overseas, proprietária do jornal "Sol" e com ligações a Álvaro Sobrinho, recebeu 36,98 milhões de dólares.

O mesmo jornal publicou ainda que Guerra avançou que tinha detalhes e comprovativos de todos estes movimentos e que Sobrinho e membros da sua família tinham sido os principais beneficiários de movimentos financeiros. De acordo com a investigação do "Expresso", pelo menos 182 milhões de dólares (146 milhões de euros) foram para contas ligadas a Álvaro Sobrinho.

Outro episódio de suposta apropriação de dinheiro por parte de Sobrinho prende-se com um financiamento de quase 840 milhões de dólares (674 milhões de euros) para comprar as Torres Sky à Escom, empresa fundada pela família Espírito Santo para actividades não financeiras e ligada à indústria dos diamantes e imobiliário.

Segundo o "Expresso", na investigação interna do BESA, apenas 360 milhões de dólares (289 milhões de euros) foram usados para esse fim. Haverá, portanto, segundo o semanário, um desvio financeiro e um desconhecimento total do destino dado a pelo menos 402 milhões de dólares (323 milhões de euros).

Mariana Mortágua perguntou se Sobrinho comprou as Torres Sky e se ficou com o remanescente do dinheiro do negócio. O angolano respondeu novamente que "não" às duas questões.

5,7 mil milhões sem destino?
Sobre uma carteira de crédito de 5,7 mil milhões de euros, que, segundo tem sido revelado pela imprensa, não tem cobertura, não havendo também noção sobre o paradeiro do dinheiro, Álvaro Sobrinho respondeu: "Não sei do que está a falar. Não corresponde a verdade."

"Mas então todo o crédito dado tem qualidade e há documentos que comprovam as suas boas práticas?", perguntou a bloquista. "Não afirmo isso com toda a certeza", respondeu o ex-banqueiro. "Mas afirmar que esse valor [5,7 mil milhões de euros] é dizer que 95% do total do crédito não tinha paradeiro. Isso seria incompreensível e inaceitável".

A carteira não está em 'default' (incumprimento)?, ripostou a deputada bloquista. "Se tivesse todo tínhamos um problema, não no BESA mas no BES". "E tivemos tanto no BESA, como no BES", disse Mortágua num aparte.

Num dos pouco momentos da audição em que afrontou Ricardo Salgado, Álvaro Sobrinho comentou o adjectivo "pavorosa" que o antigo banqueiro aplicou à situação do BESA, o ex-presidente executivo declarou: "Emprestaram-me 1,5 mil milhões sem contrato. Diga-me se isto é uma boa prática de 'governance' [modelo de governação]".

Sobrinho referia-se à linha de crédito aberta pelo BES para o investimento em títulos da dívida angola a dez anos.

Família com posses
No início da inquirição a Sobrinho, Mariana Mortágua fez várias perguntas sobre os rendimentos que o gestor bancário teve nos últimos anos para mostrar dúvidas sobre como é que é possível com rendimentos de centenas de milhares de euros por ano ter investimentos de milhões em várias empresas.

Primeiro, Sobrinho disse: "Não lhe vou responder a esta pergunta do meu foro pessoal." Mas depois, e sentindo o toque, acrescentou: "Também não me perguntou onde eu vivia. Faço parte de uma família angolana com posses."

E deu mais alguns pormenores sobre uma situação financeira desafogada: "Quando vim para Portugal estudar, a minha família comprou-me uma casa em Cascais e um carro. Nunca fui bolseiro".

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