Tempo
|

BESA investiu 1,2 mil milhões de euros em dívida angolana

18 dez, 2014 • João Carlos Malta

No Parlamento, Álvaro Sobrinho revelou o destino que tiveram 3,3 mil milhões de euros que o BES Angola concedeu em crédito.

BESA investiu 1,2 mil milhões de euros em dívida angolana
Um dos grandes mistérios da comissão de inquérito ao BES e GES é qual o destino que tiveram 3,3 mil milhões de euros que o BES Angola concedeu em crédito. Esta quinta-feira, na Assembleia da República, Álvaro Sobrinho, ex-líder do BESA, disse que uma parte desse dinheiro foi para investir em dívida pública angolana e outra parte em empresas exportadoras portuguesas.

Em 2008, contou Sobrinho, foi aberta uma linha três mil milhões de dólares (2,4 mil milhões de euros) do BES ao BESA. “1,5 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) foram para uma participação no fundo de obrigações da dívida pública a dez anos”, disse Álvaro Sobrinho, que acrescentou que o banco não foi o único a comprar estes títulos dívida angolana.

A outra parte do empréstimo, segundo Sobrinho, investida em “trade finance” (financiamento ao comércio), ou seja, em empresas portuguesas para exportação, através de cartas de crédito.

Álvaro Sobrinho revelou ainda que desta linha foram pagos até ao momento 700 milhões de euros em juros. A deputada do CDS Cecília Meireles perguntou em que ponto estava o pagamento do capital investido pelo BES, ao que Sobrinho respondeu que o contrato de financiamento prevê que apenas seja “ressarcido em 2018”.

O ex-gestor do BESA não confirmou, nem desmentiu que houvesse cinco empresas a concentrar 1,6 mil milhões de milhões. Mas adiantou que esses créditos foram todos reportados às instâncias superiores do BES e do Banco de Portugal.

Depois de insistência do deputado comunista Miguel Tiago sobre onde pára o dinheiro dos créditos aprovados pelo BESA, Sobrinho respondeu: "O dinheiro nunca saiu de Portugal porque era sempre a casa-mãe [o BES] que fazia as operações através da sua conta no BNA [Banco Nacional de Angola]".

"Até 2010, fomos credores do BES. E durante pelo menos três anos tivemos resultados superiores ao BES Portugal", acrescentou.

Quem e como se concedia o crédito

Sobre a concessão de crédito, Sobrinho disse que “obedecia a regulamentos próprios, e havia um comité de crédito, uma área comercial e a comissão executiva decidia”. E concluiu: “A concessão de crédito era uma decisão colegial, mas eu decidia.”

No início da audição, o antigo presidente executivo do BES Angola assumiu "todas as responsabilidades" pelas decisões tomadas à frente da entidade, dizendo no Parlamento que não vai entrar em "achincalhamentos pessoais seja com quem for".

"Durante dez anos que estive à frente da gestão do BESA mantinha-me informado, sabia do que lá se passava e decidia. E assumo todas as responsabilidades pelas minhas decisões", assegurou Sobrinho na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES.

Vinte audições que não pode perder no caso BES

Todas as notícias sobre a Comissão BES