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BES. Investidores querem explicações e... indemnizações

11 ago, 2014 • Carlos Calaveiras

Confiaram no "médico" (o governador do Banco de Portugal) e tomaram o “medicamento” (participaram no último aumento de capital). Agora, exigem que o Estado indemnize quem confiou nas suas instituições e apostou no BES pouco antes de tudo ruir.

BES. Investidores querem explicações e... indemnizações

Os accionistas confiaram no governador do Banco de Portugal, no Governo e em Cavaco Silva e participaram no último aumento de capital do Banco Espírito Santo (BES). Por isso, a Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM) exige agora explicações e indemnizações.

Numa petição lançada no sábado, que conta com mais de 2000 subscritor, a ATM defende que deveriam ser indemnizados pelo menos os pequenos investidores que detivessem até 137.500 euros em acções do BES, à cotação do valor de 65 cêntimos cada, "preço fixado para o último aumento de capital".

Octávio Viana defende que o Governo, como promotor da confiança, deve encontrar uma solução para este caso e encaixar o valor em indemnizações no Orçamento do Estado de 2015.
A petição pública deve chegar à Assembleia da República, onde os peticionários querem ser ouvidos.

A bula
Os investidores lamentam que as declarações do governador do Banco de Portugal tenham alterado a percepção dos accionistas sobre o BES por alturas do aumento de capital do banco, feito em Maio e Junho, pouco antes da derrocada do império de Ricardo Salgado.

O prospecto do aumento de capital expunha parte dos riscos do investimento no Grupo Espírito Santo, mas "o governador do Banco de Portugal, o Governo e o Presidente da República" disseram reiteradamente que o banco era "sólido" e que havia "uma almofada financeira" que "afastava a ideia que aqueles riscos se podiam materializar", critica Octávio Viana.

O líder desta associação de pequenos investidores dá até uma imagem para explicar o que aconteceu: "Quando temos a bula de um medicamento, existem lá uma série de riscos, mas se tiver um médico a dizer: 'Meu amigo, apesar dos riscos que estão aqui, pode tomar porque não vai ter problema, atendendo às suas condições'…".

"No fundo, foi isso que aconteceu. Temos um prospecto, que é uma bula de um medicamento, onde estão uma série de riscos, mas temos alguém, um médico – o governador do banco de Portugal – a dizer: 'Atenção, mesmo assim, não há grande problema porque a situação é esta, esta e esta'", compara.

O presidente da ATM considera que "a CMVM actuou bem, bastante bem até". "Tinha um dever que a informação que constasse do prospecto fosse de qualidade e a CMVM fez isso e cumpriu o seu papel até de forma exemplar".
 
Já quanto ao Banco de Portugal a ATM tem mais dúvidas. Até pelas declarações de Carlos Costa que, diz, baralharam os investidores.
A associação recebeu "queixas de vários tipos de investidores e vários tipos de accionistas" que se sentiram lesados. Ao todo, lembra Octávio Viana, há cerca de 200 mil pequenos accionistas e alguns ainda nem sabem que foram afectados.

A PT e o BES "parasita"
A Associação de Investidores e Analistas Técnicos pede também explicações a todas as administrações da Portugal Telecom (PT) desde 2001 sobre os negócios com o Grupo Espírito Santo.
A PT tem uma exposição ao Espírito Santo avaliada em 900 milhões de euros.
O presidente da ATM considera que dado o histórico dos negócios entre as duas empresas, em determinada altura, a PT "deixou de funcionar como empresa de telecomunicações para passar a ser um banco que vai financiar um accionista parasita, accionista parasita esse que seria o grupo GES".

Por isso, as administrações "são responsáveis perante os accionistas nesta altura em que verificamos um incumprimento da RioForte" ("holding" do grupo GES). Octávio Viana estranha a posição de Zeinal Bava em todo este processo. Diz que, enquanto administrador financeiro e presidente da PT, não poderia desconhecer a exposição ao BES.