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Negociador do resgate pelo PSD preferia programa cautelar

05 mai, 2014

Eduardo Catroga preferia uma “rede de segurança”, mas compreende a decisão do Governo. Já o economista Manuel Caldeira Cabral aponta o dedo à Europa, enquanto Graça Franco, directora de Informação da Renascença, avisa que o programa cautelar ainda pode vir a ser opção.

A decisão de sair do programa de ajustamento financeiro sem programa cautelar era esperada, mas não a desejada por alguns economistas. É o caso de Eduardo Catroga, que negociou o resgate em nome do PSD.

“Era sempre preferível ter uma rede de segurança de um programa cautelar, ainda que na sua versão mais leve. No entanto, é evidente que isso dependeria da vontade política do Governo português, mas também da dos nossos parceiros, que não estavam com muita vontade de construir a tal rede de segurança. Portanto, em função dos indicadores positivos da economia portuguesa, compreende-se a tentação do Governo de sair desta forma”, sustenta, em declarações à Renascença.

Na leitura do economista Manuel Caldeira Cabral, que trabalhou com o antigo ministro Teixeira dos Santos (do Governo de José Sócrates), o risco para Portugal é limitado. Caldeira Cabral critica, por outro lado, a postura da União Europeia.

“Eu penso que era mais saudável se houvesse soluções europeias, mas tinham de dar confiança aos mercados e também a Portugal e essas soluções não foram construídas – nesse aspecto, portanto, a Comissão Europeia não esteve bem. Nós vamos, portanto, sem rede, mas para uma situação que, em termos europeus, descomprimiu muito nos últimos tempos, em grande parte pela actuação do Banco Central Europeu”, afirma.

O economista sublinha, por outro lado, que o programa imposto pela “troika” deixou a economia portuguesa “pior, mais fraca”.

No domingo à noite, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, anunciou que Portugal vai deixar o resgate com uma “saída limpa”, sem um programa cautelar. Mas esta solução não está ainda totalmente afastada, defende a directora de Informação da Renascença, Graça Franco.

“Não negociámos agora esta rede porque os nossos parceiros não permitiram, mas, se as coisas correrem mal, os nossos parceiros estarão connosco e aí, sim, haverá que negociar o cautelar. Para isso, é muito importante o consenso”, argumenta.

Na sua intervenção de cerca de 12 minutos, Passos Coelho explicou que a opção pelo regresso sem rede aos mercados "está alicerçada no apoio dos nossos parceiros europeus" e numa reserva financeira de 15 mil milhões de euros. O país pode estar um ano sem ir aos mercados contrair novos empréstimos, garantiu.

O primeiro-ministro destacou também a recuperação da confiança dos investidores e a existência de excedentes externos e garantiu a manutenção do caminho de rigor das contas públicas.