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Portugal e Irlanda. A mesma saída limpa, dois países diferentes

04 mai, 2014 • Carlos Calaveiras e Paulo Ribeiro Pinto

Os casos português e irlandês não são iguais, mas têm alguns pontos semelhantes – incluindo, agora, a chamada "saída limpa".

Portugal e Irlanda. A mesma saída limpa, dois países diferentes

Decisiva para a escolha de saída limpa foram, seguramente, os valores das taxas de juro a 10 anos. Em 2011, o então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, disse que Portugal precisaria de pedir ajuda se esta taxa chegasse aos 7%. A crise estava instalada e os valores subiram e subiram muito acima dessa barreira psicológica: em Maio o valor estava nos 9,95% e chegou a um máximo de 16,42% a 1 de Janeiro de 2012. Desde aí foi quase sempre a descer, com algumas excepções, a mais mediática por alturas da saída "irrevogável” do ministro Paulo Portas.

O caso irlandês também teve comportamento semelhante, quase sempre em descida nos últimos meses, mas em média com valores mais baixos que os portugueses. A 1 de Maio, os juros a 10 anos situavam-se nos 3,647% (Portugal) e 3,470% (Irlanda), segundo a Bloomberg.



A Irlanda começou o programa de ajustamento em 2010 com uma queda da economia de 1,1%, cresceu 2,2 no ano seguinte, 0,2% em 2012 e 0,3% em 2013. No caso português, o PIB de 2011 caiu 1,3%, recuou 3,2% em 2012 e caiu 1,4% este ano, segundo dados da Comissão Europeia.

Essa é uma das principais diferenças entre os dois países: Portugal vem de três anos com PIB negativo enquanto a Irlanda soma três de crescimento.



No caso do défice, a Irlanda terminou o resgate com um buraco de 7,2% nas contas públicas e só dentro de dois anos chega aos 3% - convém recordar que tinha um défice de 32,4% em 2010, culpa da crise no sector bancário. Portugal partiu com um défice de 4,3%, aumentou em 2012 para os 6,4% e, em 2013, fechou nos 4,9%, abaixo da estimativa do Governo e da troika.

Neste caso, o défice irlandês sempre foi mais alto que o português. No entanto, os irlandeses têm conseguido baixar consistentemente, enquanto Portugal deixou piorar em 2012 antes de voltar a melhorar no ano seguinte.



A dívida dos dois países cresceu sempre durante o período de assistência financeira. Na Irlanda aumentou de 91,2% do PIB para 122,3% entre 2010 e 2013. Em Portugal, cresceu de 108,2% para 129,4% em 2013.



No desemprego, notam-se novamente diferenças entre os dois países – com Portugal a sair pior na fotografia.

Enquanto em Portugal cresceu sempre, de 12,9 para 16,5%, entre 2011 e 2013; no caso irlandês, a taxa desceu de 14,7% para 13,1%.



A crise fez também aumentar a emigração nos dois países. Na Irlanda, cresceu de 49,2 mil pessoas em 2008 para 88,9 mil em 2013. Em Portugal saíram 44 mil pessoas em 2011 e 121 mil em 2012 (valor recorde), segundo o Instituto Nacional de Estatística.

Na Irlanda, o dinheiro acabou porque os cofres dos bancos ficaram vazios. Por sua vez, Portugal tinha um problema de sustentabilidade das finanças públicas.

A Irlanda foi a segunda a receber ajuda internacional, depois da Grécia, mas a primeira a concluir o programa de assistência financeira. Em Dezembro de 2010, ficou a saber que ia receber um empréstimo de 85 mil milhões de euros, provenientes da "troika" composta por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. Em Portugal, a "troika" chegou em Abril de 2011 com 78 mil milhões de euros.