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Já há negócios criados a pensar nos estrangeiros com vistos "gold"

28 mar, 2014 • Carolina Rico e Patrícia Cadete

Aumento da procura de casas para compra por parte de cidadãos com visto dourado levou uma imobiliária a abrir uma loja na baixa de Lisboa. Chineses são os principais clientes.

Já há negócios criados a pensar nos estrangeiros com vistos "gold"

Os vistos "gold" levaram a um aumento da procura de imóveis para compra registado este ano. Este mercado em crescimento chamou a atenção da IRG, que abriu uma nova loja imobiliária no Chiado, uma das zonas mais exclusivas de Lisboa. Os números falam por si: 90% dos clientes da IRG são cidadãos chineses com Autorização de Residência para Investimento, os chamados vistos "gold".

Na fachada da imobiliária vários caracteres chineses indicam que clientes esta imobiliária procura. Nuno Durão, sócio-gerente da nova loja da IRG, filial da imobiliária internacional Fine & Country, afirma à Renascença que a maioria dos investidores tenciona apenas obter um visto de residência e, dessa forma, ter livre circulação em toda a Europa.

Para tal, precisam de adquirir um imóvel de valor igual ou superior a 500 mil euros. Podem ainda optar por transferir capitais de montante igual ou superior a um milhão de euros ou criar, pelo menos, dez postos de trabalho.

Legalmente, um investidor com visto de residência em Portugal só tem de estar no país durante sete dias por ano, nos primeiros 12 meses (14 dias nos anos seguintes). Nuno Durão assegura que metade dos seus clientes pensa em ficar.

"Quando vêem o céu limpo, o mar, a tranquilidade de Portugal, imediatamente começam a fazer contas: ‘Se calhar, trago o meu filho para estudar num colégio internacional, estou a pensar se calhar passar cá a viver’", conta.

"Verificados de cima a baixo"
A recente detenção, revelada pela Renascença, de um suspeito de vários crimes de burla na China, a quem foi atribuído um visto "gold" em Portugal, contribuiu para aumentar as suspeitas acerca da seriedade do programa criado para atrair investidores estrangeiros.

Esta sexta-feira, o "Público" avançou que o Ministério Público está a investigar um estrangeiro com visto "gold", de outra nacionalidade, também pelo crime de branqueamento de capitais. Em comunicado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras afirmou que, "consultadas as bases de dados", verificou-se "não existir qualquer pedido de Autorização de Residência para Investimento, nem registo de outra ordem, formulado pela pessoa" em causa.

O SEF garante que os procedimentos de atribuição dos vistos dourados seguem "com rigor" os mecanismos de segurança. Mas o Bloco de Esquerda disse que a medida transforma "este país num paraíso para burlões".

Nuno Durão admite que podem existir irregularidades no mercado. Acredita, no entanto, que a rápida detenção do suspeito chinês é prova de que o programa está a funcionar.

"Estes clientes só entram em Portugal depois de o dinheiro ter sido justificado. Passam por um ’compliance’ fortíssimo por parte dos bancos, para garantir que o dinheiro envolvido é um dinheiro honesto, fruto do seu trabalho. Nem conseguem o visto se não tiverem um registo criminal limpo. Todos estes clientes são verificados de cima a baixo antes de entrarem em Portugal", garante o sócio-gerente da loja da IRG no Chiado.

Nuno acredita que o programa dos vistos "gold" não beneficia apenas o sector imobiliário, mas toda a economia. "Estes clientes que chegam a Portugal compram nas lojas, são um bom mercado para as empresas que alugam carros, há uma economia que recebe estes clientes. Todos usufruímos."

Os vistos dourados foram lançados no início de 2013 pelo Governo. Segundo os últimos dados, já foram emitidos 772, 612 dos quais a cidadãos chineses.