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Partido alemão convida Portugal a sair do euro

25 set, 2013 • José Pedro Frazão, enviado especial a Berlim

Dirigentes do AFD não admitem mais tempo ou uma nova injecção de capital nos países do sul da Europa. Partido, que se assume como "eurorealista", sugere que os portugueses decidam, em referendo, sobre a permanência na Zona Euro.

Em cinco meses fez-se um partido a partir de 300 economistas. Sem tempo para aprovar um programa político de base, desenharam uma campanha em torno da saída do euro, não da Alemanha, mas de países mais frágeis como Portugal e a Grécia. Ficaram às portas do Bundestag, mas estão satisfeitos.

Não deve haver sítio mais estranho para apresentar um novo partido. Os dirigentes do AFD (Alternativa para a Alemanha) conduziram por estes dias um grupo de jornalistas internacionais por uma escola de artes de um amigo do partido.

Entre artefactos de caracterização e "make-up" para cinema, teatro e televisão, uma sala de aula serviu para dois dirigentes do AFD “irem ao quadro”. Foi um bombardeamento intenso sobre o que quer este partido que obteve 4,8% nas eleições federais.

O AFD é um híbrido político. Criado como movimento social, foi formalizado em Abril, recolheu milhares de assinaturas em todos os estados e ficou às portas do Parlamento alemão. Ideia base: a Europa não é o euro. E quem não tem capacidade competitiva para estar numa moeda forte deve sair para seu próprio bem.

O partido não admite ser etiquetado como nacionalista, mas recolhe muitos votos à direita. Não se diz contra o sistema, mas recolheu o apoio nas urnas de abstencionistas e de alguma extrema-esquerda. E apresenta-se como um partido que convida alguns países a saírem do euro, reconhecendo que não os pode expulsar.

Euro não serve a Portugal
O AFD fala, claro, da complexa situação da Grécia. Mas gosta de ilustrar com outros países.

“Queremos um euro forte. Pensamos que um país precisa de um modelo de negócio. Grécia e Portugal - para nomear dois países – não têm um modelo de negócio competitivo na Zona Euro. Claro que a Grécia pode apostar no turismo, mas os preços são muito elevados. Não faz sentido que um café custe 3 euros e 20 cêntimos e em Berlim custe apenas 2 e 50 ou 2 e 90”, diz o dirigente Frank-Christian Hansen.

O partido não admite mais tempo ou uma nova injecção de capital nos países do sul da Europa. O AFD defende que Portugal não tem condições para continuar no euro. E sugere que os portugueses decidam, em referendo, sobre a permanência. E, claro, que prefiram sair.

“Se não houver um modelo competitivo, o país fica cada vez pior. Se ficar no euro, teremos recessão”, garante Hansen, lembrando que nos primeiros meses do ano houve um ligeiro aumento do crescimento económico, mas em termos homólogos a queda foi de 2%. Portugal ainda é um problema.
A questão que os portugueses devem colocar-se é se o euro é bom para eles. Se disserem “sim” então não temos nada a dizer, remata.
“A questão é que o euro não responde às necessidades de Portugal”, assegura por seu lado o jurista Karl Friedrich Weiland, militante do AFD, em Berlim.

Euro quê?
“Eurocépticos”, muitos dizem deles e eles respondem com o título de “eurorealistas”.

Após a tese da necessidade de saída da Grécia ou de Portugal veio o aviso: “ Não queremos que ninguém saia do euro. Somos a favor de uma União Europeia, mas vemos problemas na moeda única. Existem deficiências estruturais num espaço económico em que, por diversas razões, os países do Norte são mais competitivos que os do Sul”, conclui Hansen.

Alguém pergunta, então porque não sai a Alemanha do Euro? “Se os mais fortes como a Alemanha, a Finlândia ou a Holanda saíssem, teríamos um euro dos fracos”. Hansen volta à carga: “Será melhor para países como a Grécia saírem do euro, desvalorizarem a moeda, tornarem-se competitivos e depois regressarem”.

O AFD vai agora tratar de se organizar como partido e a convicção geral dos analistas políticos em Berlim aponta para uma nova tentativa eleitoral nas europeias de 2014. Até porque a fasquia para eleição está abaixo dos 5% exigidos para o Bundestag. Até lá as desventuras do euro podem contribuir para “dar a alternativa” ao AFD na política alemã.