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António Guterres

"Europa arrisca-se a uma explosão social"

13 mar, 2012 • Raquel Abecasis

Ex-primeiro ministro não está preocupado com “a herança” política que deixou no país e não tenciona escrever as suas memórias.

"Europa arrisca-se a uma explosão social"
Em entrevista ao programa Terça à Noite da Renascença, o alto comissário da ONU para os refugiados manifestou-se muito preocupado com a forma como a Europa está a enfrentar a crise económica. "Um modelo matemático, que tente resolver os problemas da economia sem compreender ou sem incluir os dados sociais, é um modelo que se arrisca a uma explosão”, afirma António Guterres. O responsável pelo ACNUR diz ainda que “a falta de uma liderança mundial” é responsável pela imprevisibilidade e pelo arras

António Guterres, em entrevista ao programa “Terça à Noite”, da Renascença, mostra-se muito preocupado com a forma como a Europa está a enfrentar a crise económica e alerta para o perigo de uma “explosão” social.

“Há uma lacuna base de solidariedade [na Europa] e, quando isso acontece, as soluções que parecem óbvias, [nomeadamente] um modelo matemático que tente resolver os problemas da economia sem compreender ou sem incluir os dados sociais, é um modelo que se arrisca a uma explosão”, afirma o alto comissário da ONU para os refugiados.

O antigo primeiro-ministro lamenta que as decisões sobre a Grécia tenham sempre sido tomadas “à beira do abismo”, esquecendo o sofrimento das pessoas.

Acrescenta que “no plano dos direitos humanos sempre foram condenadas as punições colectivas, mas também não há culpas colectivas no plano económico” e, por isso, “a dimensão da solidariedade é essencial para ajudar os países que por diversas razões se encontram em situação mais difícil”.

Numa entrevista em que falou sobre como a sua experiência no mundo lhe dá razões para continuar a acreditar na humanidade, António Guterres sublinhou a grande lição que milhares de refugiados lhe têm dado por esse mundo fora, partilhando o pouco que têm com os outros e ajudando-se mutuamente em situações de grande dramatismo.

O ex-primeiro-ministro português diz que “a falta de uma liderança mundial” é responsável pela imprevisibilidade e pelo arrastar de muitos conflitos e manifesta-se mesmo convicto que, “se a situação de Timor tivesse ocorrido agora, não teria tido a solução que foi possível encontrar”.

Nesta entrevista à Renascença, António Guterres disse ainda não estar preocupado com “a herança” política que deixou no país e que não tenciona  escrever as suas memórias.