Emissão Renascença | Ouvir Online

“Portugal tem uma cultura antibebés”

06 jan, 2015 • Raquel Abecasis

Ana Cid Gonçalves, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, lamenta que a cultura dominante considere anormal que se tenha mais do que dois filhos. Em museus, por exemplo, os pacotes familiares são para quatro pessoas.

“Portugal tem uma cultura antibebés”
Ana Cid Gonçalves da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas lamenta que a cultura que se implementou em Portugal veja como anormal que se tenha mais do que dois filhos.
A secretária-geral da Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN) considera que Portugal tem uma cultura antinatalista.

Ana Cid Gonçalves, que participou no grupo de trabalho para propor medidas ao PSD para fazer face à crise demográfica que o país atravessa, diz, em entrevista ao programa "Terça à Noite", da Renascença, que mais do que os problemas económicos, o maior problema que os portugueses enfrentam é uma cultura antinatalista em toda a sociedade.

“Nós temos famílias que nos fazem queixas do que se passa nos centros de saúde, onde a uma mãe que tem o segundo filho perguntam logo se ela não quer fazer laqueação de trompas a seguir”, exemplifica.

Ana Cid dá também o exemplo da injustiça das tarifas da água como um caso flagrante de cultura anti-bebés: “A água é um dos aspectos que também foi fazendo cultura, uma família maior paga mais por metro cúbico de água por pessoa, porque os tarifários foram construídos tendo em conta só o consumo global da habitação, não o consumo per capita”.

Outro exemplo verifica-se em museus ou outras estruturas similares, onde é possível encontrar pacotes familiares para quatro pessoas - dois adultos e duas crianças. "O terceiro filho ou o quatro filho pagam bilhete", aponta.

Nesta entrevista, a responsável da APFN acusa também as empresas portuguesas de terem vistas curtas na forma como lidam com a maternidade e paternidade dos seus funcionários.

Apesar de tudo, Ana Cid reconhece que começa a haver uma mudança de perspectiva e alerta para a importância da estabilidade nas medidas como a do quociente familiar.

"Mais do que muitas medidas, é muito importante a estabilidade, como provam os exemplos estrangeiros, porque quem tem um filho, tem um filho para a vida", sublinha.