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"A ciência é uma coisa de ricos", diz vencedor do Prémio Pessoa

17 dez, 2014

Henrique Leitão reconhece, em entrevista à Renascença, que problemas económicos reflectem-se na investigação científica, mas desdramatiza a "fuga de cérebros".

"A ciência é uma coisa de ricos", diz vencedor do Prémio Pessoa
Em entrevista ao programa "Terça à Noite" da Renascença, o vencedor do Prémio Pessoa, Henrique Leitão, defende que "sem base cristã não haveria ciência moderna".Fundador do Centro de História da Ciência da Universidade de Lisboa, afirma que "a ciência é uma coisa de ricos" e funciona como "um termómetro para a situação económica de um país".

“A ciência é uma coisa de ricos. É uma pena dizer isto, mas só quando há alguma disponibilidade financeira é que se pode fazer ciência”. A afirmação é de Henrique Leitão, o vencedor do Prémio Pessoa 2014, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.

O investigador considera que “a ciência, de certa maneira, funciona como um termómetro para a situação económica de um país, porque é o facto de haver uma economia saudável que permite haver investigação pujante”.

“O fenómeno é muito complexo -  o que é que influencia o quê? -  mas, se não há disponibilidade económica, como é que se pode fazer ciência?”, pergunta este especialista em História da Ciência, que em 2003 foi um dos fundadores do Centro de História da Ciência da Universidade de Lisboa.

Henrique Leitão reconhece que “todos os problemas económicos acabam por se reflectir na actividade científica”, mas também desdramatiza a chamada “fuga de cérebros”.

“Se a emigração e cérebros corresponde a uma total inexistência de capacidades para fazer ciência em Portugal, claro que isso não é bom, mas há alguma emigração de cérebros que é boa. Os jogadores de futebol também procuram grandes clubes e os grandes cientistas são muitos atraídos para fora de Portugal. A ciência tem muita circulação desta”, afirma Henrique Leitão em entrevista ao programa “Terça à Noite”, conduzida por Francisco Sarsfield Cabral.

“O facto de termos vários e óptimos investigadores portugueses fora de Portugal é resultado de quê? Isso é que precisava de ser bem estudado e bem analisado”, acrescenta este doutorado em Física Teórica, que já foi comentador regular da Renascença.

Outra prova do seu trabalho é o facto de vários membros da sua equipa virem do estrangeiro. E diz que não é exemplo único, nem a sua equipa é das maiores: “Há pessoas de todo o mundo que querem vir para Portugal, que querem vir trabalhar com um grupo que acham que é interessante, que é dinâmico e que trabalha em temas de primeiro plano. É uma oportunidade óptima para o país e quanto mais competitivos e interessantes se tornarem os grupos de investigação em Portugal mais estrangeiros atraem.”

Nesta entrevista ao programa "Terça à Noite", Henrique Leitão afirma que, "se não houvesse uma base cristã, nunca teria havido, propriamente, ciência moderna, porque se hesitava sobre aspectos que são absolutamente centrais para haver ciência”.