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"Se Portugal quer ser respeitado, tem de se respeitar a si próprio"

03 dez, 2014 • Raquel Abecasis

Em entrevista à Renascença, o antigo ministro Luís Amado considera que, se Portugal tivesse vetado a Guiné Equatorial, a CPLP poderia ter acabado.

"Se Portugal quer ser respeitado, tem de se respeitar a si próprio"
Luís Amado considera que Portugal tem tido "muita dificuldade em projectar uma imagem do respeito do país". Em entrevista ao "Terça à Noite", o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros fala numa "mancha de humilhação" desenvolvida pelas elites e que acaba por passar para o exterior. Nesta entrevista, Luís Amado fala sobre o papel de Portugal na CPLP e do fim da cooperação judicial com Timor-Leste.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado considera que nos últimos anos Portugal tem tido "muita dificuldade em projectar uma imagem do respeito" por si próprio, pelas instituições e pela forma como lida processos internos.

Em entrevista ao programa "Terça à Noite" da Renascença, Luís Amado fala numa "mancha de humilhação" desenvolvida pelas elites e que acaba por passar para o exterior, através da forma como os outros países olham para Portugal.

No lançamento das Conferências de Lisboa, um evento em que se pretende relançar o papel de Portugal como “player” internacional, o antigo chefe da diplomacia portuguesa faz duras críticas à forma como o país tem descurado a política internacional.

Falando do papel de Portugal no mundo e, em particular, na sua relação com os países lusófonos, Luís Amado considera que Portugal tem falhado na prevenção dos problemas, como julga ter sido o caso nos recentes incidentes de expulsão de juízes portugueses de Timor-Leste.

“Não se sustenta um regime transitório de exercício de uma função de soberania num Estado depois de 15 anos de independência”, afirma Luís Amado.

O ex-ministro só fica “espantado” por não terem acontecido problemas há mais tempo e acrescenta: “Esta ideia de ter juízes a julgar num território independente tinha tudo para acabar mal”.

Já quanto ao facto de Portugal ter aceite a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Luís Amado considera que “não podemos condicionar a CPLP aos nossos interesses estratégicos”.

O antigo MNE garante que os outros países da comunidade têm um interesse estratégico e não económico na integração da Guiné Equatorial. Sobre este assunto, diz ainda que, “se Portugal levasse até ao extremo o seu veto, os países africanos e, eventualmente o Brasil e Timor, seguiriam o seu destino, mas fariam o boicote à CPLP”.