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Évora, não basta ser Património Mundial

17 set, 2013 • Rosário Silva

CDU quer reconquistar cidade ao PS. Universidade e investimento aeronáutico tentam contrariar desertificação e envelhecimento.

Já “cheira” a eleições na cidade de Évora. As passadeiras foram pintadas, a linha azul que serve o centro histórico através de pequenos autocarros é agora também notória no pavimento. Um pouco por todo o lado há vestígios de pequenas obras devidamente assinaladas, e até a limpeza foi recentemente beneficiada com a ajuda de voluntários. Classificada Património Mundial, desde 1986, a cidade que é agora do mundo, limpa ou suja, continua a receber inúmeros turistas.

Não permanecem muito tempo, mas chegam de todo o lado, como diz Francisco Bilou, responsável pelo Posto de Turismo de Évora. A cidade ostenta um título que, contudo, não se revê no estado de degradação de uma parte do património. Exemplo incontornável é o conhecido Salão Central, que já foi cinema (hoje Évora não tem uma sala de cinema condigna) e recebeu várias manifestações culturais. É o mais emblemático edifício, bandeira de campanha eleitoral e que tem dado mote à contestação dos eborenses, sobretudo de quem está mais ligado à cultura, o “parente pobre” de uma cidade que já conheceu dias melhores nesta área.

Mais de duas décadas à frente do município, perdeu-o para o PS em 2001, o comunista Abílio Fernandes lamenta, entre outros aspectos, que se tenha perdido o que designa de espirito de coesão.

Com um centro histórico despovoado e envelhecido, os últimos Censos revelam, porém, que Évora, com cerca de 56 mil e 500 habitantes, foi um dos municípios do distrito que viu aumentar a sua população numa década. Principal pólo urbano da região, é no turismo, comércio e serviços que se encontram os principais sectores de actividade.

A vocação universitária tem-se revelado significativa nos últimos anos, até porque a Universidade de Évora tem feito um esforço para se abrir à comunidade e adaptar-se à realidade regional. Há todo um futuro em aberto e, apesar dos constrangimentos financeiros, um optimismo que faz sorrir o reitor da instituição, Carlos Braumann.

Já Paulo Neto, professor do Departamento de Economia da mesma instituição, desafia os empresários a tomar a dianteira. Este economista, que coordenou uma equipa que elaborou o Plano de Desenvolvimento Estratégico de Évora, considera que os investimentos não se têm projectado de forma articulada e há ainda uma lógica de concorrência em vez de complementaridade no que toca, por exemplo, à gestão da rede urbana.

A dar emprego e esperança a Évora tem estado o investimento dos brasileiros da Embraer. A construtora tem a funcionar duas fábricas que já empregam mais de uma centena de pessoas. Os brasileiros chegaram, não fizeram grande alarido a não ser o necessário, aparecem quando lhes convém e arrastam vozes e mais vozes, cá do burgo e não só, a reclamar para si uma obra que, politicas à parte, conseguiu, no geral, congregar esforços e vontades de quase todos os que se digladiam verbalmente.

À cidade não basta ser Património Mundial, lembra o delegado regional do IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional. Defensor desde sempre de um cluster de avançada tecnologia, José Palma Rita não tem dúvidas que cabe à autarquia garantir as condições para a fixação de quadros especializados.
E quem quer reconquistar a autarquia é a CDU e quem a tenta manter para o PS é Manuel Melgão, que assumiu em Maio deste ano a gestão do município, depois da saída de José Ernesto Oliveira.

O presidente/candidato diz que quer “fazer melhor”, mas vai ter de contar com a CDU que ainda não digeriu o facto de ter perdido este antigo “bastião” comunista em 2001 e que ambiciona regressar ao poder. Para o efeito conta com a experiencia de Carlos Pinto de Sá, antigo autarca de Montemor-o-Novo com obra feita e reconhecida.

Na corrida eleitoral estão ainda, o médico Paulo Jaleco, candidato pela coligação PSD/CDS-PP. De resto, o Partido Social Democrata, que em 2009 concorreu sozinho, conta apenas com um lugar no actual executivo municipal e que, pelo menos, espera manter. Sem representação na autarquia, o Bloco de Esquerda aposta numa mulher. É funcionária pública e chama-se Maria Helena Figueiredo. Nas últimas autárquicas, o PS obteve 40% dos votos e a CDU 34,7%. A terceira força política foi o PSD com 17,5% dos votantes e no fim da tabela o Bloco de Esquerda com 2,8% e o CDS-PP não passou dos 2,2% dos votos.