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"Eleitos pelo povo têm medo daqueles que os elegeram"

25 abr, 2013

O estado da democracia 39 anos depois do 25 de Abril esteve em debate na Renascença. Helena Roseta, Ribeiro e Castro e Helena Matos foram os convidados.

A democracia representativa já teve melhores intérpretes, afirma Helena Roseta, que lamenta o encerramento dos jardins de Belém e São Bento no 25 de Abril.

Num debate esta quarta-feira à noite na Renascença sobre o estado da democracia, a vereadora da Câmara de Lisboa confessa que lhe “custa muito ver os jardins fechados” ao público no dia da Revolução dos Cravos, um sinal de que os políticos “estão cheios de medo do povo”.

“Não há democracia que possa ser construída quando os eleitos pelo povo têm medo daqueles que os elegeram”, sublinha Helena Roseta, que desafia os partidos a saírem dos gabinetes e a irem para o terreno ouvir as pessoas.

Neste debate sobre o estado da democracia, Ribeiro e Castro, deputado e antigo líder do CDS, declara-se contra o que apelida de “consensocracia” e compara a União Europeia a um grupo de “27 náufragos encostados uns aos outros”.

“O que consenso existe depois de haver uma decisão que é democrática e que as pessoas decidem mais para um lado ou mais para o outro, e isso não acontece. Eu creio que a União Europeia funcionando nesta forma torna-se mais um factor de doença das democracias europeias do que um factor de saúde”, adverte.

Ribeiro e Castro critica a actual política espectáculo e lembra que antigamente havia mais sessões de esclarecimento do que comícios. Na sua opinião, um dos maiores fracassos da democracia é a falta de capacidade para alterar lei eleitoral autárquica.

Helena Matos, ensaísta, autora de dois livros sobre Salazar e consultora das séries televisivas “Conta-me como foi” e “Depois do adeus”, considera que vivemos uma crise de adaptação, mais do que uma crise de identidade.

“É como na natureza, os ecossistemas só sobrevivem se se souberam adaptar e nós temos de nos saber adaptar à demografia que temos. Eu tenho a certeza que se vão adaptar, só acho que nos podemos adaptar a coisas melhores do que a coisas piores e teremos de ser capazes de fazer essas escolhas, penso eu, que para melhor, das quais, na minha opinião, a democracia representativa é absolutamente essencial”, sustenta.

Para Helena Matos, as pessoas têm uma “memória recomposta e afectiva em relação ao passado” e acham que os políticos de antes eram melhores do que os actuais, o que não corresponde necessariamente à verdade, sublinha.