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Cardeal Marx: Igreja é livre de mudar regras sobre acesso à comunhão

17 out, 2014 • Filipe d'Avillez

O presidente do episcopado alemão diz que a "exclusão" não faz parte da linguagem da Igreja e que é preciso evitar a ideia de que existem cristãos de primeira, segunda e terceira.

Cardeal Marx: Igreja é livre de mudar regras sobre acesso à comunhão
É "óbvio" que a Igreja pode mudar a sua disciplina sobre o acesso aos sacramentos para pessoas em uniões irregulares, como divorciados que voltaram a casar civilmente, considera o presidente da Conferência Episcopal Alemã.

O Cardeal Reinhard Marx dominou as atenções da conferência de imprensa do sínodo da família, esta sexta-feira, na qual participou juntamente com o presidente da Conferência Episcopal Francesa, o Arcebispo Paul Pointier, de Marselha, e uma leiga colombiana, que participa no sínodo enquanto perita na área de famílias e crianças em situação de risco social.

Marx foi o alvo da esmagadora maioria das perguntas, uma vez que é próximo do Cardeal Walter Kasper, que tem encabeçado a ala reformista do sínodo, com uma proposta de permitir o acesso aos sacramentos por parte de pessoas em uniões irregulares. Antes do sínodo, Marx tinha prometido levar um documento de apoio a Kasper, assinado pelos bispos alemães.

Na verdade, Marx, que ainda faz parte da comissão de nove cardeais criada para aconselhar o Papa Francisco sobre a reforma do Vaticano, confirmou que "a esmagadora maioria dos bispos alemães" é favorável a uma mudança, mas logo acrescentou que já concluiu que "muitas pessoas pensam de maneira diferente".

A polémica
A atitude da Igreja para com casais em uniões irregulares e as uniões homossexuais têm sido dos mais polémicos de um sínodo. Nas palavras de Marx, o encontro teve tensões e momentos de "grande efervescência".

Os opositores consideram que não é possível mudar a prática de impedir o acesso de divorciados e recasados à comunhão, uma vez que esta faz parte da doutrina da Igreja, que não pode mudar.

Mas Marx e Kasper consideram que, pelo contrário, é uma questão disciplinar, que pode e deve mudar. Na conferência de imprensa, Marx disse que a doutrina não pode ser mudada, mas pode ser desenvolvida. "A verdade não é um sistema, mas uma pessoa, Cristo. O Evangelho não muda, mas devemos perguntar-nos se já descobrimos tudo".

Sobre a questão dos homossexuais, Marx é da opinião de que nem tudo é preto e branco e deu o exemplo de homossexuais que vivem numa relação duradoura e fiel e alguém que muda de parceiro todos os dias: para o cardeal alemão, são casos diferentes e que, por isso, não devem ser colocados ao mesmo nível.

O importante, diz Reinhard Marx, é realçar que "a exclusão" não faz parte da linguagem da Igreja. "Não podemos dizer que há cristãos de primeira, de segunda e de terceira".

Em busca de um relatório final
A comissão redactora do relatório final do sínodo está a trabalhar numa versão do texto, que será submetida a votação no sábado, em plenário.

Não é certo que se consiga aprovar um texto final a tempo do final do sínodo, mas, mesmo que seja, os bispos realçam que esse será apenas mais um passo a caminho do próximo sínodo, que terá lugar em Outubro de 2015.

Esta sexta-feira deve ser apresentada uma “mensagem ao povo de Deus”, uma prática habitual nos sínodos, que fala de forma geral sobre o que se passou e o que foi debatido, mas não inclui quaisquer recomendações ou conclusões. O autor dessa mensagem, o Cardeal Ravasi, estará presente na conferência de imprensa de sábado.

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