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Frei Bento Domingues

“Sínodo serve para construir um mundo de fraternidade”

19 set, 2014 • Ângela Roque

O frade dominicano Bento Domingues foi homenageado em Lisboa. O sacerdote fala da sua visão de uma igreja “aberta” e um mundo em que toda a humanidade se vê como família.  

O sínodo para a Família, que tem início em Outubro, é uma oportunidade para promover um mundo mais fraterno, considera frei Bento Domingues, que esta sexta-feira foi homenageado em Lisboa.

“Jesus teve sempre um contencioso com a própria família e com a dos discípulos, porque eles queriam-se fechar sobre si mesmos e ele queria um mundo-família. A família é um lugar onde se aprende o mundo como família e este Sínodo que vem não é só para continuarmos uns debatezinhos, é realmente dizer o mundo que falta fazer, que é um mundo de fraternidade, e isso é absolutamente importante”, considera.

O Auditório 2 da Fundação Gulbenkian encheu-se para agradecer a frei Bento Domingues a intervenção que tem tido na sociedade portuguesa, sobretudo através das crónicas que há mais de 20 anos escreve no jornal “Público”.

Na linha das suas intervenções públicas, frei Bento Domingues diz à Renascença que considera fundamental a Igreja reflectir e dar espaço ao diálogo: “A Igreja em Portugal até não é fechada. Levou tempo e teve problemas nessa abertura mas acho que é hoje algo verdadeiramente aberto. Às vezes privilegiam algumas correntes, é a vida. Mas parece é que um catolicismo que não reflecte, não debate, tem o perigo de se agarrar a determinadas idolatrias e não abre, mesmo enunciando, não abre o espaço da Igreja àquilo que o Papa actual quer, que é uma Igreja aberta a todos, a partir dos excluídos”.

Para o teólogo dominicano vivemos um tempo de esperança como actual Papa. “Está a fazer um trabalho. É evidente que lhe lançaram, já antes de entrar, muitos pedregulhos no caminho, muitas dificuldades que ele tem de enfrentar, mas ele também tem uma coisa que é uma alegria, é a alegria dele e o bom humor. E portanto, é exigente e denunciador das coisas, mas abre aos católicos esta questão: que podemos nós fazer pela transformação do mundo?”

O jornalista António Marujo, que sublinha a coerência e lucidez de frei Bento Domingues, é um dos organizadores da iniciativa, apesar de reconhecer que o frade dominicano não gosta particularmente de homenagens: “O frei Bento brinca com esta ideia de homenagem, dizendo que é uma missa de corpo presente. De facto a definição certa é a de 'festa'. Estamos a ‘festejar’, ‘celebrar’ uma pessoa que tem uma capacidade de intervenção na sociedade portuguesa como poucos, que é capaz de manter um olhar lúcido, crítico e ao mesmo tempo um olhar de esperança e de muito humor sobre o que vai acontecendo”.

“Tudo isso feito a partir de um centro, que é a vida de Jesus. A vida que ele tem, aquilo que ele pensa, aquilo que ele reflecte, aquilo que ele propõe e sugere é tudo a partir desse centro que é a adesão à pessoa de Jesus, e isso é uma atitude com a qual eu acho que os cristãos deviam aprender. Colocar Jesus no centro e não uma instituição, ou o meu modo de pensar, ou aquilo que eu acho em termos ideológicos, esse é o desafio para os cristãos ou para um crente que tenha a matriz cristã no seu horizonte”, conclui.

A homenagem a frei Bento Domingues decorre até ao final da tarde desta sexta-feira na Gulbenkian, numa iniciativa da editora “Temas e Debates” e coincide com a publicação do livro “A Insurreição de Jesus”, a segunda compilação das crónicas que o frade dominicano escreve no jornal “Público” desde 1992.

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