Emissão Renascença | Ouvir Online

Portugal não é um país de doutores e engenheiros

20 mai, 2014 • José Carlos Silva

A poucos dias das eleições europeias, a Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, divulga dados actualizados sobre Portugal e também dos restantes países da União Europeia.

Portugal não é um país de doutores e engenheiros

A ideia de que Portugal é um país de doutores e engenheiros não corresponde à realidade, afirma Maria João Valente Rosa, directora do portal Portada, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que a poucos dias das eleições europeias disponibiliza dois novos retratos do país.

Os dados permitem saber exactamente onde se situa o país em várias áreas, comparando com os restantes membros da União Europeia. Estes são documentos importantes para políticos e eleitores que permitem derrubar alguns mitos, diz a directora da Pordata.

“Aquela ideia de que Portugal é um país de engenheiros e doutores e que tem excesso de pessoas qualificadas, não tem qualquer correspondência com os factos. Por exemplo, os indicadores de escolaridade provam que, apesar dos enormes avanços que o país tem feito ao longo das últimas décadas nesta área, continuamos na cauda da Europa no que toca à qualificação”, explica Maria João Valente Rosa.

As mais recentes informações disponibilizadas pela Pordata revelam, também, que Portugal tem evoluído positivamente na área da Educação. O insucesso escolar tem vindo a diminuir, mas há ainda muito a fazer por comparação com os restantes 27 países da União Europeia, segundo a directora da Pordata.

Maria João Valente Rosa considera que os dados permitem aos políticos e aos eleitores perceberem muito bem o Portugal de hoje. “Estes retratos são exactamente um contributo para uma opinião mais esclarecida e mais fundamentada sobre a sociedade portuguesa. Estamos à porta de umas eleições e estes retratos surgiram em boa hora: é uma maneira de percebermos as fragilidades do nosso país por comparação aos restantes 27 da União Europeia”, sublinha.

Os retratos de Portugal (2014) e de Portugal na Europa estão disponíveis para download em e-book nos sites da Pordata ou da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Portugal fica mal na fotografia
No bilhete de identidade de Portugal, no que toca aos dados mais recentes referentes a este ano, salta aos olhos o salário mínimo nacional em valor médio mensalizado. Com 660 euros brutos, num cálculo a 12 meses, a que se soma a paridade do poder de compra, Portugal fica situado a meio da tabela entre os países da União Europeia. Esta é a fórmula usada pelo Eurostat para permitir a comparação entre os vários países europeus. Os portugueses que recebem o salário mínimo auferem 485 euros brutos em cada mês do ano, mais subsídio de férias e de Natal.

O melhor salário mínimo é o do Luxemburgo, com 1.576 euros, seguido da Bélgica e da Holanda.

Já no que toca ao desemprego, Portugal estava o ano passado em quarto lugar, com 16%: Pior só Grécia, Espanha e Croácia. A média da União Europeia foi de 11%.

Em relação à taxa de risco de pobreza, Portugal surge em 9º lugar, com 17,9%, ligeiramente acima da média europeia, que é de 17%.

A produção por cada hora de trabalho estava abaixo da média. Portugal ocupava a 21ª posição entre os 28 Estados-membros.

No capítulo da educação, a taxa de abandono escolar em 2013 foi de 19,2%, mais de sete pontos percentuais acima da média da União.

É ainda na educação que Portugal bate recordes pela negativa. O ano passado apenas 40% da população residente, entre os 25 anos e os 64 anos, tinha o ensino secundário, muito longe dos 75% da média da União ou dos 93% registados pela Lituânia.

Noutro capítulo, em 2012 Portugal estava de novo no topo da lista por más razões: 5,8% das despesas das famílias iam para gastos com saúde, quando a média europeia era de 3,7%.

Numa leitura mais fina, constata-se que em 2012, a Alemanha tinha 157 idosos por cada 100 jovens, mais 27 idosos que Portugal. Neste capítulo Portugal surge em quinto lugar.

Em França e na Irlanda as mulheres tinham nesse ano, em média, dois filhos e Portugal apenas um. O país surge no fim da tabela da União Europeia no índice de fecundidade.

Um ano antes, em 2011, registavam-se em Portugal 74 divórcios por cada 100 casamentos. Nesta matéria, pior do que Portugal só mesmo a Letónia.

Dados para um país, que em dimensão é o 13º maior da União Europeia e que tem uma área de cultivo biológico acima da média em termos de percentagem da superfície total.