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Ribeiro Cristóvão

Memória futura

25 jul, 2014 • Ribeiro Cristóvão

O estádio de Manaus, no Brasil, custou cerca de 700 milhões de euros, com lotação para 42.374 espectadores. Terminado o campeonato, a manutenção do recinto custa 200 mil euros mensais, o que torna inviável a sua utilização pelos poucos clubes ali existentes, todos eles de importância residual no contexto do futebol brasileiro.

Nos próximos quatro anos vamos ter dois eventos de grande dimensão internacional no que ao futebol diz respeito: em 2016, o Campeonato da Europa, a disputar em território francês e, dois anos mais tarde, de novo o Mundial, a realizar na Rússia.
Ainda não são totalmente conhecidos os cadernos de encargos nos dois casos, mas é fácil prever que as verbas a despender com estádios e afluentes naqueles dois países não serão tão elevadas como aconteceu nas edições anteriores.
Os maus exemplos têm fatalmente de frutificar. Além disso, as economias já não são capazes de suportar custos que mais tarde acabam por se revelar incomportáveis, lançando sobre os Estados compromissos que só a muito longo prazo serão sanados, com toda a espécie de encargos que arrastam consigo ao longo de muitos anos.
Nós, portugueses, temos uma grande experiência nesta matéria. Os estádios construídos de raiz ou remodelados para acolher o Euro-2004 ainda hoje, em boa parte, são e serão, durante muito tempo, cancros que não vai ser fácil extirpar. A loucura levada então a cabo por um governo sem projecto, apenas movido por eleitoralismo levando por diante a construção de dez estádios, de há muito faz sentir as suas consequências.
E assim é que se mantém de pé a possibilidade de avançar para algumas demolições, resolvendo-se deste modo o problema da manutenção de alguns deles que, à míngua de verbas, autarquias e clubes se mostram incapazes de enfrentar.
O Brasil, que copiou e até ampliou o nosso aventureirismo, começa agora a sentir problemas idênticos que, de resto, continuam a levantar múltiplos problemas sociais. E a primeira notícia, como de resto se esperava, chega de Manaus, cujo estádio custou cerca de 700 milhões de euros, com lotação para 42.374 espectadores, e onde se realizaram quatro partidas do Mundial: Inglaterra-Itália, Camarões-Croácia, Portugal-EUA e Honduras-Suiça.
Terminado o campeonato, só a manutenção do estádio Arena Amazónia custa agora 200 mil euros mensais, o que torna inviável a sua utilização pelos poucos clubes ali existentes, todos eles de importância residual no contexto do futebol brasileiro.
Começam, por isso, a ser estudadas fórmulas que ajudem a resolver este problema que é, por enquanto, apenas o primeiro a ser notícia.
Porque outros se lhe seguirão. Inevitavelmente.