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Europa deficitária em mulheres nas TIC

20 ago, 2014 • Ana Carrilho

Há falta de mulheres no sector das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). A conclusão está num estudo da Comissão Europeia e, no Trabalho Sem Fronteiras, analisa-se hoje o problema e possíveis soluções.

O estudo "Mulheres Activas no Sector Digital" encomendado por Bruxelas é claro: por cada 1.000 raparigas que concluem o Ensino Superior, apenas 29 são diplomadas  em Tecnologias de Informação, ou seja, menos de 1/3 dos rapazes.
 
Mas há outras conclusões que alarmam a Comissão Europeia: Se são poucas as mulheres que escolhem esta via de ensino, são ainda menos as que trabalham no sector ou as que chegam a cargos de chefia. E no entanto, para a Comissão Europeia, é claro que a entrada de mais mulheres no sector digital poderia acrescentar anualmente cerca de nove mil milhões de euros ao PIB europeu.
 
Mas, então, por que é que elas não querem seguir uma carreira na área digital?
 
Os números
Até 2015 há cerca de 900 mil postos de trabalho para preencher na União Europeia no sector das Tecnologias de Informação e Comunicação. Desemprego não é, portanto, um problema. E os salários pagos são, em média, mais altos que noutros sectores de actividade.
 
O Relatório da Comissão Europeia, concluído nos últimos meses, deixa claro que seria bom para todos que mais mulheres seguissem esta via profissional. Sublinha até que, se o sexo feminino tivesse uma presença efectiva na liderança das organizações na área digital ao mesmo nível do masculino, os ganhos para o Produto Interno Bruto europeu poderiam atingir os nove mil milhões de euros por ano. Ou seja, 1,3 vezes o Produto de Malta mas também as próprias empresas poderiam incrementar os lucros para si e para os seus accionistas em mais de 30%.
 
Um caso concreto
Hoje em dia, encontrar uma criança ou um jovem que não tenha uma relação próxima com computadores, telefones inteligentes, jogos, internet e redes sociais é difícil. Mas parece que quando chega a hora de escolher um curso superior há outros factores, em muitos casos preconceitos, que travam o caminho do digital para as raparigas. Esse é um dos constrangimentos apontados no estudo europeu e que Isabel Bernardo, licenciada e a trabalhar no sector da tecnologias de Informação há dois anos também refere em declarações à Renascença.
 
Aos 23 anos é consultora na área de facturação de uma grande empresa de telecomunicações mas a nível internacional. Não se deixou influenciar por pressões sociais e seguiu a vocação sem nunca se arrepender.
 
Mas ainda é “um caso raro”. No curso de Isabel Bernardo, elas eram 8 entre 40 alunos. Isabel mantém-se na mesma empresa e integra uma equipa de 15 pessoas. Mas é a única mulher, para além da chefe.
 
A maior dificuldade em conciliar a vida familiar e profissional pode, aliás, ser uma das razões pela qual muitas mulheres abandonam a carreira na área digital a meio da sua vida activa: depois dos 30 anos só cerca de 20% das diplomadas em tecnologias se mantém no sector e depois dos 45, desce drasticamente para 9%. Para a União Europeia, a bem de todos, esta é uma realidade que tem que mudar. Para isso, é preciso agir e tornar o sector mais atraente para as mulheres mostrando que é entusiasmante, pode adaptar se a diversas actividades, apela à criatividade e é útil à sociedade. Sem falar das oportunidades de carreira que surgem e do rendimento que é possível conseguir.
 
Que soluções?
No “Trabalho sem Fronteiras” de hoje discutimos a questão com a ajuda de Maria Jordão, professora e investigadora do ISEGI – Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa.
 
Esta professora do ISEGI diz que se nota essa tendência de haver menos raparigas “numa das licenciaturas (Sistemas e Tecnologia de Informação), mas não tanto em gestão de informação. Já nas pós-graduações, “há especialidades em que elas dominam claramente”, nomeadamente ligadas ao Marketing.

Para Maria Jordão, as mulheres procuram áreas mais criativas, lembrando que ainda persiste um preconceito em relação ao que são profissões de homens e de mulheres. Preconceito que às vezes é das próprias mulheres. Por isso, a investigadora do ISEGI considera estar na altura de todos perceberem que as mulheres também têm um lugar nesta área das tecnologias de informação. 

A professora sublinha que a liderança no feminino – cujo défice ainda se nota mais nesta área que noutros sectores de actividade – é benéfica para as empresas. Em geral, têm resultados financeiros mais significativos, referem os estudos europeus e das Nações Unidas.