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Esta Europa é para velhos?

23 jul, 2014 • Ana Carrilho

No próximo sábado assinala-se o Dia dos Avós. A propósito da data, a Renascença foi perceber em que medida é que os avós são, cada vez mais, um pilar fundamental para as famílias europeias.

São eles que substituem os pais em muitas tarefas do dia-a-dia. Com a crise, acabaram também por ser um importante apoio financeiro.

Os avós são uma variável também tida em conta pelos casais na hora de decidir sobre quando e quantos filhos ter. Segundo os dados do Eurostat, Portugal registou no ano passado a taxa de natalidade mais baixa da União Europeia: 7,9 crianças por cada mil habitantes. Muito inferior à de mortalidade: 10,2.

No ano passado, nasceram 5,1 milhões de bebés no conjunto dos 28 Estados-membros. Em Portugal nasceram apenas 82 mil. E os avós assumem um papel fulcral no que toca à família, mas isso levanta vários problemas: por exemplo, há pessoas que se reformam mais cedo para cuidar dos netos, numa Europa que – paradoxalmente – exige que os cidadãos trabalhem mais anos.

A Renascença teve acesso a um estudo revelador sobre a importância dos avós nas famílias actuais e compara a situação portuguesa com a de outros 12 países europeus.

O estudo “A Prestação de Cuidados pelos Avós na Europa” faz uma análise comparativa das políticas familiares em 12 países da União Europeia e Suíça.
 
Segundo este estudo financiado pela Fundação Gulbenkian, em mais de 40% dos países analisados, os avós prestam cuidados aos netos sem a presença dos pais, sendo que a situação é mais vincada nos países do Sul da Europa – Portugal, Espanha, Itália e também na Roménia.

Portugal é o país com maior número de mães com filhos até aos 6 anos a trabalhar a tempo inteiro e onde os avós assumem maiores responsabilidades para tomar conta dos netos.

Em parte porque também é nestes países que as mulheres com filhos pequenos mais trabalham fora de casa e a tempo inteiro, não ganhando, no entanto, o suficiente para pôr as crianças numa creche. O trabalho a tempo parcial não abunda e também não interessa às famílias portuguesas, em que as dificuldades económicas se acentuaram desde o início da crise.

A alternativa, quando é possível, são os avós que frequentemente cuidam dos netos a tempo inteiro enquanto os pais trabalham. O que pode pôr em causa os rendimentos desta geração mais velha. O documento chama a atenção que as avós entre os 50 e os 69 anos são as que têm mais probabilidades de prestar cuidados infantis.

Pelo contrário, em países do Norte da Europa, existem estruturas de apoio e acolhimento de crianças, como a Dinamarca ou a Suécia, os cuidados dos avós são apenas ocasionais.

O estudo chama ainda a atenção que Portugal tem assistido a um aumento dos agregados familiares com três gerações, que está associado à pobreza e falta de recursos económicos. 

Um caso real em Portugal
Fomos à procura de uma história, que ilustre esta realidade: a realidade dos avós que funcionam como âncora da família e a repórter Paula Costa Dias encontrou um caso em Leiria. Uma história entre milhares de histórias semelhantes em Portugal e também noutros países da União Europeia.

Telmo Viera, responsável pelo Observatório do Envelhecimento e Natalidade esteve na Renascença a falar do problema.