Emissão Renascença | Ouvir Online

Santana Lopes. "Esforço da Santa Casa terá de ser maior" para acolher refugiados

28 ago, 2015

No programa “Fora da Caixa” da Renascença, o provedor da Santa Casa da Misericórdia condena a “miopia de vários países europeus” na actual crise dos migrantes e refugiados.

Santana Lopes. "Esforço da Santa Casa terá de ser maior" para acolher refugiados
No programa “Fora da Caixa” da Renascença, o provedor da Santa Casa da Misericórdia condena a “miopia de vários países europeus” na actual crise dos migrantes e refugiados.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa admite fazer um “esforço maior” do que previsto para acolher mais refugiados, revela o provedor Pedro Santana Lopes em declarações ao programa “Fora da Caixa” da Renascença.

Em Maio deste ano, a Santa Casa disponibilizou-se para receber metade dos cerca de 700 refugiados que na altura estavam destinados a Portugal, um número que entretanto aumentou para cerca de 1.500.

“Com certeza que o esforço da Santa Casa terá de ser maior do que aquele que eu disse nessa altura. Ainda esta semana estive a trabalhar neste assunto com a administradora da Acção Social e na previsão do reforço de meios necessários, nomeadamente, também estamos a fazer o plano e orçamento para 2016”, afirma Santana Lopes na edição desta semana do programa “Fora da Caixa”.

O provedor da Santa Casa adianta que tem “recebido sinais muito positivos, muitas vezes fruto também das palavras que ouço da sensação de abandono do seu território que têm muitas autarquias do interior do país”.

Afirma que “há receptividade dentro da característica tradicional do povo português da generosidade no acolhimento” e faz uma comparação com outros períodos da História. “É obviamente diferente, mas lembremos a integração notável que houve dos chamados retornados de África depois do 25 de Abril, mas também de outros movimentos, nomeadamente da Europa Oriental depois da queda do Muro de Berlim.”

Já António Vitorino, antigo comissário europeu com o pelouro dos Assuntos Internos, considera que o processo de acolhimento dos refugiados vai obrigar a sociedade civil portuguesa a mobilizar-se.

Das instituições da Igreja, às organizações sindicais, passando pelas autarquias, há muito trabalho pela frente para receber e integrar estas pessoas na sociedade portuguesa, diz o antigo ministro à Renascença.

“A Obra das Missões da Igreja Católica, que tem um trabalho notável em matéria de acolhimento de imigrantes, vai ter que ser mobilizada também para estes refugiados que vão chegar, assim como o Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, assim como as organizações sindicais e as autarquias locais, em primeiro lugar, por causa da questão da integração, das zonas de habitação onde essas pessoas vão ficar a viver, porque vão ter que conviver com as comunidades locais.”

António Vitorino considera que este trabalho é fundamental para evitar problemas como os que têm acontecido noutros países europeus, nomeadamente na Alemanha.

Na preparação para a recepção aos refugiados, o antigo comissário europeu defende a necessidade  de uma “enorme pedagogia cultural, política e cívica junto das comunidades de acolhimento”.

Esse trabalho, sublinha, “exige também que a sociedade civil se mobilize, com voluntários, para impedir que haja o desenvolvimento de uma relação de tensão”.

Perante as reservas de vários Estados europeus em abrir as portas aos migrantes e refugiados, Santana Lopes assinala que, pelos contactos que vai fazendo, tem “havido várias manifestações no sentido de condenar a ‘miopia’ de vários países europeus”.

A vaga de migrantes pode ser encarada como “uma oportunidade” e uma alternativa para ajudar a resolver o “problema da natalidade” no Velho Continente, sugere.

“Eu penso que os grandes construtores sociais e os grandes líderes das comunidades têm de ter essa capacidade de visão, para procurar transformar os fenómenos negativos, mesmo os que parecem trágicos, em oportunidades tão positivas quanto possível para o futuro das sociedades”, conclui o provedor da Santa Casa.

O programa Fora da Caixa é uma parceria Renascença/Euranet, para ouvir às sextas-feiras, depois das 23h00.