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Genocídio arménio

Países têm que conviver com as “páginas negras da sua própria história”

18 abr, 2015 • José Pedro Frazão

Os países têm que aceitar as páginas negras da sua história, afirma o antigo comissário europeu António Vitorino sobre as palavras do Papa sobre o genocídio arménio que irritaram o governo da Turquia.

Países têm que conviver com as “páginas negras da sua própria história”
O Parlamento Europeu pediu esta quarta-feira à Turquia que reconheça o genocídio levado a cabo pelas tropas do Império Otomano ao povo arménio durante a I Guerra Mundial. A notícia surgiu depois de o Papa Francisco ter utilizado o termo “genocídio” e depois de o Governo turco ter ficado “desapontado” com as palavras do Papa. Santana Lopes acredita que o uso da palavra "genocídio" não terá sido imponderado. António Vitorino recorda que apesar de o acontecimento ser um facto histórico, ainda não r
Cem anos depois do massacre de centenas de centenas de milhares de cristãos arménios às mãos do Império Otomano, Francisco apelidou de genocídio este capítulo da história. No programa “Fora da Caixa”, da Renascença, António Vitorino lembra que “não há unanimidade de interpretação”, mas os países têm que aprender a viver com o seu passado.

“A questão da irritação turca, todos os países têm que conviver com a história e têm que aceitar, em princípio, que às vezes há páginas negras na sua própria história", disse.

Pedro Santana Lopes considera que o uso do termo genocídio pelo Papa “não foi, seguramente, imponderado” e “tem consequências, só que os interesses e a perspectiva do Vaticano não são exactamente os mesmos da União Europeia”. A preocupação com tolerância na religiosa é a explicação mais plausível para a frase “dura” de Francisco em relação à Turquia, refere o antigo primeiro-ministro.

“Acho que devemos ligar uma coisa a outra, a preocupação com a tolerância religiosa para que no futuro não venham a existir mais perseguições a cristãos, concretamente a católicos, porque não consigo encontrar outra explicação a não ser a questão de princípio. A frase do Papa, mesmo pondo os olhos no futuro, é dura para a Turquia e a diplomacia do Vaticano não ignora nem um bocadinho  - pelo contrário – a importância da Turquia para o mundo ocidental”, referiu Santana.

Na análise de António Vitorino, as palavras do Papa apelam a que “se desbloqueie esse tema através do reconhecimento de que houve um genocídio. Não é sequer uma tentativa de fazer uma condenação retroactiva, é com os olhos postos no futuro e em algo que sempre caracterizou o Império Otomano, embora com altos e baixos, que era a tolerância religiosa”.

O Parlamento Europeu aprovou esta semana uma moção, em que pede à Turquia o reconhecimento do genocídio arménio.

Santana Lopes mostra-se mais surpreendido com a posição assumida pelo Papa. Já António Vitorino não acredita numa retaliação da Turquia contra a Europa.

“Não creio que a Turquia vá retaliar em relação à União Europeia por causa da questão do Parlamento Europeu ter decidido votar uma moção. Os problemas da Turquia com a União Europeia são bastante mais complicados do que isso, estão muito para além de um embaraço criado por uma tentativa de construir uma versão oficial histórica”, conclui António Vitorino.

O programa “Fora da Caixa” é uma parceria da Renascença com a Euronet, que pode ouvir às sextas-feiras depois das 23h00.