Emissão Renascença | Ouvir Online

Fora da Caixa

Vitorino. Exportar energia dá autoridade moral para receber mais ajudas europeias

06 mar, 2015 • José Pedro Frazão

O antigo comissário europeu debateu a nova União Energética com Pedro Santana Lopes, no programa Fora da Caixa. Santana elogia postura do Governo.

Vitorino. Exportar energia dá autoridade moral para receber mais ajudas europeias
António Vitorino considera que exportar energia dá "autoridade moral" para receber mais ajudas europeias. O antigo comissário europeu debateu a nova União Energética com Pedro Santana Lopes, no programa Fora da Caixa da Renascença. As interligações energéticas entre a Península Ibérica e a Europa estiveram em destaque.
António Vitorino defende que partilhar energia com a Europa pode ajudar a receber mais ajuda noutras áreas. O antigo comissário europeu comenta desta forma, no Fora da Caixa da Renascença desta sexta-feira, o esforço de ligação das redes energéticas ibéricas a França, que vai permitir exportar os excedentes de Portugal para o resto da Europa.

"Este é um exemplo concreto em que os países ibéricos, normalmente recebedores de solidariedade, neste momento têm uma oportunidade para serem dispensadores de solidariedade. Isso reforça a sua autoridade moral – mais até do que as contas – para exigir que a solidariedade funcione também noutras circunstâncias e sectores em sentido inverso", argumenta Vitorino.

As interligações energéticas foram colocadas como prioridade na nova União Energética anunciada pelos 28.

Esse foi o tema principal da cimeira tripartida (França, Espanha e Portugal) realizada esta semana em Madrid, com a participação da Comissão Europeia e do Banco Europeu de Investimento. Os três países prometeram trabalhar em conjunto para que a Península Ibérica esteja isolada do ponto de vista energético.

"Alguma coisa vai ter que ser feita no plano europeu. A dificuldade que existe resume-se em três linhas: segurança do aprovisionamento (todos nós sabemos que com a crise na Ucrânia os fornecimentos de gás russo estão em causa), a solidariedade entre os Estados-membros (uma partilha do risco em matéria energética) e a necessidade de garantir as interconexões, que esteve em cima da mesa em Madrid", sistematiza o comentador socialista.

Já Santana Lopes põe o foco na questão da segurança energética: "Hoje em dia é difícil encontrarmos um espaço do mundo onde não exista uma ameaça. A autonomia e a capacidade de subsistência em termos energéticos é fundamental para a independência das sociedades, para a sua liberdade, para que nenhuma entidade externa as condicione politicamente".

"Quem paga?" é a questão central das dispendiosas interconexões energéticas.

António Vitorino diz que é fundamental que o "plano Juncker" tenha um envelope substancial guardado para estes projectos. "Se há ponto de aplicação evidente para um investimento deste género é o plano Juncker. Porque vai ter que obviamente associar investimento público e privado. E tornar rentável esse tipo de interconexões. Não é só nos Pirinéus, mas também nos Balcãs, por exemplo, na ligação entre a Grécia e a Bulgária. É um conjunto de investimentos em infra-estruturas que pode interessar aos investidores privados. Mas sem a garantia de segurança de um investimento público europeu provavelmente hesitariam".

Santana elogia Governo
Santana Lopes aproveitou para elogiar Passos Coelho e o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, pela sua atitude negocial no processo que levou as metas de interligações energéticas às prioridades do Pacote Energia e Clima, dando lugar à União Energética.

O primeiro-ministro chegou a ameaçar vetar o referido pacote de medidas se as metas de interligações não fossem vinculativas. "Passos Coelho esteve bem a afirmar uma posição de firmeza. Isto é vital para nós que estamos aqui no canto da Europa. Estamos na periferia, mas isto é vital para todos. Deixar para trás esta difícil interconexão não fazia sentido para Portugal", defende Santana Lopes.

O ex-primeiro-ministro acrescenta: "Temos um ministro do Ambiente capaz, com visão correcta do mundo, corajoso. De facto deu aqui continuidade a opções que vinham de trás. Fico contente por, no meu país, pelo menos nessa área, haver a capacidade de pensar estrategicamente e para além das barreiras partidárias".

Já para António Vitorino continuidade não foi a palavra certa para a políticas governavas para a energia.

"Houve um 'stop and go' (pára-arranca). Houve uma paragem e depois a revisão das condições e dos incentivos financeiros às energias renováveis. Um aumento das energias renováveis depende muito das condições financeiras com que elas abundam. Tinham a ver com incentivos que em muitos casos foram considerados incomportáveis do ponto de vista orçamental e que foram desactivados. O plano de energias renováveis não foi levado até ao fim. Do ponto de vista dos princípios, acho que ninguém pode ser contra o aumento da percentagem de energias renováveis na produção de electricidade", remata o antigo governante socialista.

O programa Fora da Caixa é uma parceria Renascença/Euranet, para ouvir depois das 23h00 de sexta-feira.