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Fora da Caixa

Vitorino: "Podemos" pode provocar um bloco central em Espanha

22 nov, 2014 • José Pedro Frazão

A subida do novo partido "Podemos" ao topo das intenções de voto em Espanha volta a colocar em sentido todo o quadro político tradicional, não apenas no país vizinho. Os comentadores do programa "Fora da Caixa" ensaiam explicações para o aparecimento e florescimento desta força política espanhola.

Vitorino: "Podemos" pode provocar um bloco central em Espanha
A subida do novo partido "Podemos" ao topo das intenções de voto em Espanha volta a colocar em sentido todo o quadro político tradicional, não apenas no país vizinho. Os comentadores do programa "Fora da Caixa" ensaiam explicações para o aparecimento e florescimento desta força política espanhola.

É a nova coqueluche da política europeia. O "Podemos" veio da contestação popular que mobilizou os chamados "indignados", foi ganhando corpo e depois das Europeias instalou-se na liderança das sondagens em Espanha.

António Vitorino associa as próximas legislativas a um teste decisivo para o partido liderado por Pablo Iglésias. "É possível concordar pontualmente até com algumas das ideias do Podemos. Mas, no seu conjunto, aquilo não faz sentido na minha opinião, na perspectiva de construir um governo na base de aquilo. Este "Podemos" é uma força nacional. Nesse sentido vem fazer com que o sistema partidário fundador da Espanha entre em disrupção. Obviamente, isso pode tornar difícil a governabilidade espanhola, mesmo que o Podemos não ganhe as eleições. Pode ser que a única forma de ter um governo maioritário em Espanha seja uma coligação entre os dois grandes partidos", antevê o antigo comissário europeu.

Santana Lopes sobe a parada e lembra que há um debate paralelo em Espanha sobre a unidade do Estado. " Faço notar que o senhor Sanchez, secretário geral do PSOE, a propósito da questão da unidade do estado veio propor já a criação de um estado federal como meio de ultrapassar as dificuldades da situação existente. Ou seja, esta questão está sempre em cima da mesa mas a avançar - vamos no federalismo. Juntando com a questão da ingovernabilidade ou governabilidade dificultada, não vai ser fácil", diz o antigo líder social-democrata.

Raio X do novo partido
Os partidos tradicionais estiveram muito desatentos e desvalorizaram a emergência deste movimento, considera Pedro Santana Lopes. " Acreditaram que apesar de tudo podiam deixar passar a onda. Tapar o nariz, mergulhar e deixar passar a onda. E quando ela passou, tinha trazido algo de novo para a praia, alguma 'organicidade federadora' deste movimento de contestação", sustenta o antigo primeiro-ministro que admite que o "Podemos" pode ter vindo para ficar durante uns tempos devido ao "cimento" muito forte da simples contestação ao sistema.

Quem serão os eleitores do " Podemos" ? António Vitorino argumenta que de momento são intenções de voto de rejeição do sistema. " Não é um voto a favor das poucas coisas alternativas que o "Podemos" propõe: a economia comunitária, as hortas locais,a troca directa, a rejeição dos bancos, guardar o dinheiro em casa, rejeitar o mercado. Como deriva romântica é interessante. Agora, como praticabilidade, para um movimento que dê origem a um Governo, não me parece que tenha viabilidade", sustenta o antigo ministro socialista.

O novo partido pode ser estranho ao sistema político espanhol mas entranhou-se já no quadro partidário do país vizinho. "O 'Podemos' é algo de facto estranho. Logo o nome sabe a reencarnação do 'obamismo'. Pode dar para chegar ao poder? É um bom ponto, eles trazem de facto uma grande arte da comunicação", reconhece o antigo primeiro-ministro.

Numa coisa, António Vitorino e Santana Lopes estão de acordo: não se vislumbra um "Podemos à portuguesa" nos tempos mais próximos. "A imaginação não tem limites mas não é fácil formar a partir do nada um movimento social como aquele que esteve na origem do 'Podemos'. Mas também temos partidos 'verdes' que não são fruto verdadeiramente do movimento ecologista", ironiza o antigo comissário numa referência à proximidade entre Os Verdes e o PCP.

Já Santana Lopes comenta o estilo de Pablo Iglésias. "Não estou a ver o Rui Tavares com aquele visual. Acho que há ali uma grande diferença apesar de tudo. Os de Portugal são de realidades diferentes. Nem o Marinho e Pinto se aproxima, por muito que queiram, pensando na componente algo populista dele. É uma realidade muito diferente. Não vejo ninguém igual. Nem parecido", remata.

O "Fora da Caixa", que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na "Edição da Noite", é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.