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Santana Lopes e o Novo Banco. "Venda precipitada é contrária ao interesse nacional"

26 set, 2014

O antigo primeiro-ministro diz que o rumo traçado pela nova administração é sensato. António Vitorino apela à estabilização do banco. Os comentadores do Fora da Caixa discordam de Draghi quando este reclama louros na intervenção do Banco de Portugal.

Santana Lopes e o Novo Banco. "Venda precipitada é contrária ao interesse nacional"
É preciso calma e serenidade no processo de venda do Novo Banco, defende Santana Lopes no programa "Fora da Caixa", quando questionado sobre a situação do antigo BES, no contexto da intervenção do Banco de Portugal e das declarações mais recentes do governador do Banco Central Europeu. "Esta direcção que entrou, sintonizada com a orientação do Banco de Portugal de 'vendam o mais depressa possível', está a trilhar um rumo sensato. Uma instituição financeira não pode anunciar que se vende o mais depressa possível", observa o antigo primeiro-ministro que reconhece alguma confusão no debate sobre este tema.

"Eu próprio a certa altura pensei que era melhor resolver o mais depressa possível. Mas atenção, não pode ser desta maneira. É preciso calma, serenidade, fazer as coisas assegurando tanto valor quanto possível e acabando com esta ventania á volta de uma venda precipitada que acho contrária ao interesse nacional. Há esse risco? Sim, mas a nova equipa está consciente disso. Está a procurar tranquilizar, nomeadamente os trabalhadores do banco", sublinha Santana Lopes.

Já António Vitorino deixa a receita. Com ou sem venda, imediata ou não, é preciso estabilidade. ” Acho que esta equipa é muito profissional. Conheço vários elementos [ da administração], são pessoas com grande conhecimento da banca e com grande experiência. Obviamente, vendendo ou não vendendo, o que é importante é estabilizar o banco imediatamente e clarificar qual é o seu horizonte futuro. Se o accionista – que neste momento é o fundo de resolução – e a nova equipa de gestão estão alinhados, isso é meio caminho andado para garantir essa estabilização e para garantir que o resultado final seja tão positivo quanto possível", defende o antigo ministro socialista.

Os méritos do BCE
" It's a joke. É uma piada". Santana Lopes comenta assim as palavras de Mário Draghi, quando o Governador do Banco Central Europeu diz que foi graças ao BCE que o Banco de Portugal detectou os problemas do BES. E concretiza : " Não foi por causa da troika. A detecção do que se passava no Novo Banco [ N.R: refere-se ao antigo BES] não foi feita assim. Foi feita por denúncias, por desmoronamento interior da estrutura da parte não financeira. Nunca vimos que na sequência de qualquer exame da troika, tivéssemos todos mais conhecimento – incluindo no Banco de Portugal – do que se passava no ex-BES, actual Novo Banco".

António Vitorino concorda. " Só se chegou ao problema do Espírito Santo Financial Group, sediada no Luxemburgo, a partir da decisão que o Banco de Portugal tomou de analisar a carteira de crédito dos bancos portugueses, designadamente dos 12 maiores devedores do Banco Espírito Santo. Nesse sentido, o ponto de partida da investigação foi Lisboa, não Frankfurt", atira.

O antigo comissário europeu considera que se alguma conclusão europeia há que retirar é que tudo ainda foi feito numa fase de total ausência de coordenação dos supervisores." Que eu saiba, nunca o supervisor luxemburguês teve dúvidas sobre a estabilidade do ESFG. Nem sequer foi o supervisor luxemburguês que avisou o [supervisor] português de era preciso ter especial atenção ao BES em virtude da situação do ESFG.É óbvio que a pressão sobre os supervisores nacionais, entre eles o Banco de Portugal, para serem mais estritos na análise da situação dos bancos dos vários países, também resulta da dinâmica europeia, da União bancária, da nova legislação que foi adoptada. Isso sem dúvida alguma. Mas isso não é só mérito de Draghi", diz Vitorino.

A hora da verdade de Draghi
Os comentadores assinalam que a adesão da banca europeia ao primeiro programa de refinanciamento ( TLTRO) do BCE ficou aquém do esperado. Vitorino observa que os bancos europeus, sobretudo espanhóis e italianos, apenas usaram 82 mil milhões de euros no primeiro leilão do BCE. Para o antigo comissário, a explicação passa pelos resultados dos testes de stress. " A divulgação da lista provisória vai ser a 15 de Outubro. Posso estar enganado, mas a minha tese é esta: não andaram agora a correr atrás deste caso porque estão à espera dessa lista para saberem a que distância estão do equilíbrio da sua folha orçamental. E depois em Dezembro tiraremos conclusões", conclui Vitorino que observa que a estratégia de Draghi é fazer anúncios inesperados e tentar viver dos rendimentos desses anúncios até onde puder.

Com os olhos postos nos resultados dos testes de stress, Santana Lopes diz estar convencido que haverá algum desvio de foco de atenções da Península Ibérica para outras paragens. O antigo primeiro-ministro sustenta que " será um momento também muito importante também para a relação de força entre Draghi e as autoridades mais ortodoxas alemãs, que mantêm posições políticas, financeiras, monetárias e orçamentais mais ortodoxas. Os resultados dessas avaliações determinarão a medida em que as pessoas de Draghi poderão ser mais úteis e necessárias. Ou se, afinal de contas, temos que continuar a ir pelo caminho pregado pelos ortodoxos".

O Fora da Caixa, que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.