22 ago, 2014
O conflito sobre Gaza “não tem solução” à vista, a menos que surjam interlocutores políticos com “capacidade de controlo”, defende António Vitorino no programa Fora da Caixa da Renascença.
O antigo comissário europeu mostra-se pessimista depois da violação das tréguas e do falhanço das negociações de paz entre as duas partes em conflito.
“Estou convencido que esta última violação do cessar-fogo foi feita à margem da cadeia de decisão do Hamas, foi feita por um grupo ainda mais radical e espontâneo. A situação não tem gestão política, não há interlocutores políticos com capacidade de controlo e, como o problema é essencialmente político antes de ser um problema apenas de equilíbrio de forças, não tem solução”, afirma.
Sobre o papel da União Europeia no braço de ferro entre Israel e o movimento palestiniano Hamas, António Vitorino considera que os 28 têm “vindo a perder influência na sua capacidade de intervenção no terreno”.
“O que a União Europeia faz é pagar a reconstrução daquilo que é ciclicamente destruído. Eu lembro-me de quando estive em Bruxelas votar por duas vezes créditos para o mesmo hospital, que tinha sido reconstruido e de novo destruído. Isto é um ciclo vicioso que não tem saída”, lamenta.
Na mesma linha, Pedro Santana Lopes deixa críticas e afirma que “a posição europeia tem sido demasiadamente apagada”, apesar de ser “correcta no plano dos princípios”.
A UE está “muito alheada do teatro das operações, dos esforços diplomáticos que se vão desenvolvendo, quer nos territórios dos dois Estados quer no Egipto”, defende o antigo primeiro-ministro.
Para Santana Lopes, duvida que a solução para o conflito na Faixa de Gaza passe pela aplicação de sanções, porque castigam “povos já martirizados” e, por outro lado, há sempre países fornecedores alternativos.
Em relação à situação no Médio Oriente, refere que “ou são os próprios a resolvê-la e a saturarem-se daquilo que têm passado ou é muito difícil outros conseguirem fazê-lo”.
Quem cede primeiro na guerra das sanções?
No diferendo entre a Rússia e o Ocidente por causa da Ucrânia, António Vitorino avisa que Portugal e os outros países europeus têm que estar preparados para “pagar um preço pela lógica das sanções”.
O antigo ministro socialista lembra que já há efeitos na Rússia e começam a surgir no espaço da União Europeia e os apoios anunciados por Bruxelas, nomeadamente ao sector agrícola, não passam de “uma verba simbólica”.
“A lógica das sanções não é uma lógica eterna. É ver quem é que cede primeiro, a quem dói primeiro mais fundo e acaba por chegar à mesa das negociações”, argumenta.
Pedro Santana Lopes dá o exemplo de países, como o Brasil e a Argentina, que “correm para tentar ocupar o lugar das exportações europeias” para a Rússia, numa altura em que seria de esperar “solidariedade entre todos os que partilham os mesmos valores”.
“Lembro que, entre outros factos, está aqui em causa o abate a sangue frio de um avião de civis, sem explicação cabal até hoje, sem resposta, sem um pedido de desculpas, nada”, concluiu o provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Nesta edição do programa Fora da Caixa, António Vitorino e Pedro Santana Lopes também analisaram a situação explosiva no Iraque.
O Fora da Caixa, que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.