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O que tem o Iraque a ver connosco?

20 jun, 2014 • José Pedro Frazão

António Vitorino e Pedro Santana Lopes debatem, no programa Fora da Caixa desta semana, o conflito iraquiano, a possível desagregação do país e as consequências para o ocidente.

O que tem o Iraque a ver connosco?
Onze anos depois da guerra de Bush, o Iraque parece desfazer-se numa guerra civil. Para António Vitorino, Barack Obama também falhou no Iraque. Santana Lopes impressiona-se com a desunião europeia que persiste. No programa Fora da Caixa desta semana, ambos explicam como esta nova crise é preocupante para os europeus.

Onze anos depois da guerra de Bush, o Iraque parece desfazer-se numa guerra civil. Para António Vitorino, Barack Obama também falhou no Iraque. Santana Lopes impressiona-se com a desunião europeia que persiste. No programa Fora da Caixa desta semana, ambos explicam como esta nova crise é preocupante para os europeus.

As coisas estão difíceis, reconhece Pedro Santana Lopes." A possível desagregação do Iraque não é um cenário a afastar. E com tudo o que tem ao lado, na Síria, com a agitação de elementos que são treinados, preparados e mobilizados em territórios limítrofes e até em países da União Europeia", adverte o ex-primeiro-ministro.

António Vitorino sublinha os dados avançados esta semana pelo chefe do Governo britânico. Dois mil a três mil combatentes europeus estão na Síria e alguns a voltar a casa, diz David Cameron, trazido ao debate por Vitorino para ilustrar como "isto tem tudo a ver connosco. Não só pelos impactos na economia mundial, pela questão da estabilidade numa zona fundamental de acesso entre Ásia, Europa e Mediterrâneo, mas também por motivos de segurança".

Tu ficas com o Iraque, nós tratamos do Irão
Se tudo isto é relevante para o nosso continente , afinal o que anda a fazer a Europa neste canto do mundo? António Vitorino pensa que houve aqui uma divisão de tarefas entre os dois lados do Atlântico. "A União Europeia empenhou-se na gestão do dossier iraniano, com resultado positivo. Está muito comprometida com o processo de paz israelo-palestiniano, mas sempre teve uma posição de grande relutância em relação ao Iraque. De alguma forma terá pensado que como a confusão no Iraque foi provocada pelos americanos, eles que a resolvam", explica o ex-comissário, que reconhece que "não há uma política europeia para o Iraque". Havendo uma ligação estreita entre as crises na Síria e no Iraque, há que questionar a posição europeia em relação ao conflito sírio, anota Vitorino.

E entretanto passaram já mais de dez anos sobre o início da guerra no Iraque. Santana Lopes diz-se impressionado com a falta de unidade da União Europeia neste dossier. "Faz falta uma voz unida da UE nestas regiões", acentua Pedro Santana Lopes, que na qualidade de ex-primeiro-ministro recorda ter recebido os contingentes da GNR que foram para o Iraque.

"Trezentos tipos a dar conselhos? É uma coisa notável"
António Vitorino diz que Barack Obama também falhou no Iraque. "Se, do ponto de vista histórico, o erro tenha sido a intervenção de 2003 de George W. Bush, também falhou a estratégia da administração Obama para dar autonomia e capacidade às forças militares iraquianas para lidarem com a ordem pública", atira. Os Estados Unidos admitem agora ataques cirúrgicos, em apoio às forças iraquianas, mas não querem voltar ao Iraque com tropas de combate. Vitorino ironiza sobre o envio de um batalhão de conselheiros americanos, "trezentos conselheiros é uma coisa notável".

Outra ironia a registar: Estados Unidos e Irão estão do mesmo lado da barricada, contra os sunitas que apoia o ISIS, o auto-denominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Para António Vitorino, essa convergência acentua esse falhanço americano.

Americanos. “What else?”
É o que parece concluir Santana Lopes, juntando as peças do xadrez anterior. " Não estou a dizer que os Estados Unidos têm jeito para lidar com esta região do globo. Manifestamente não têm. A questão é : quem tem ?", pergunta o antigo líder social-democrata que confessa ainda que todas as manhãs tem espreitado as cotações do petróleo. António Vitorino tem feito o mesmo: "Espanta-me que o petróleo ainda não tenha disparado. Temos que nos preparar para uma subida do preço do petróleo nos mercados".

O programa Fora da Caixa, que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.