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Novo Governo na Grécia e crise na Ucrânia marcam semana

30 jan, 2015 • Manuela Pires/Ricardo Conceição/Francisco Sarsfield Cabral/Vasco Gandra 

Esta semana há dois temas fortes que marcaram os temas na União Europeia: o novo Governo na Grécia e a crise na Ucrânia que levou os ministros dos Negócios Estrangeiros a reunirem-se ontem de emergência em Bruxelas para decidirem prolongar as sanções à Rússia.

Novo Governo na Grécia e crise na Ucrânia marcam semana

O novo Governo em Atenas tem motivado uma série de reacções por parte dos líderes dos Estados membros e até da Comissão Europeia. Uma das ideias é que a Grécia vai ter de assumir os compromissos e não podem ser os europeus a pagar as novas políticas de Atenas.

As eleições de domingo deram a vitória ao Syriza, o partido de Esquerda que quer acabar com a austeridade e definiu como prioridade, a renegociação da dívida.

Ao partido de Alex Tsipras faltaram apenas dois deputados para a maioria absoluta. Mas, na manhã seguinte às eleições, foi anunciado um acordo com o partido dos gregos independentes. O discurso mais radical do Syriza já foi sendo suavizado, nomeadamente em relação ao euro.

Ricardo Conceição foi o jornalista da Renascença que esteve em Atenas a acompanhar as eleições na Grécia, onde era esperada a vitória do Syriza. Menos esperado talvez fosse que, em apenas 4 anos, conseguisse passar dos 4% para uma vitória quase absoluta. Para o enviado especial da Renascença “esta foi uma penalização dos partidos do sistema que têm governando a Grécia nos últimos anos”. "Estão cansados dos políticos e dos partidos do sistema. Estão cansados de 40 anos de promessas não cumpridas" e foi por isso que votaram desta forma. É também uma forma de mostrarem que "não há nada a perder".

Daquilo que sentiu nas ruas de Atenas, Ricardo Conceição diz que "os gregos sabem que vêm aí tempos difíceis, com negociações duras, e que as coisas não vão mudar de um dia para o outro, mas trata-se de um voto de cansaço para com os partidos que mostraram não conseguir nada de novo". Segundo o enviado da Renascença à Grécia, "apenas um partido defende a saída do euro que é o KKE, o Partuido Comunista grego. Todos os outros apoiam a manutenção. A larga maioria dos gregos é a favor da moeda única e da manutenção na União Europeia".  

Esta quarta feira realizou-se a primeira reunião do Conselho de Ministros e Alex Tsipras, depois das declarações mais duras de há uns meses, garante agora que não quer a ruptura com a União Europeia: “Vamos comprovar que as previsões catastrofistas estão erradas. Não queremos uma ruptura destrutiva para os dois lados. Mas, por outro lado, não vamos prosseguir com a destruição da Grécia e a política de submissão”, afirmou.

Na mesma reunião, ministro das Finanças Yanis Varoufakis reconhecia que as negociações com a União Europeia não vão ser fáceis: “Não haverá duelo entre o nosso Governo e a Europa. Não haverá ameaças. Não está em causa quem vai recuar primeiro. A crise de 2010 na Zona Euro só teve vítimas e derrotados. Os únicos que saíram a vencer foram os que promovem o ódio: os racistas e os que investem no medo e na discórdia. As negociações não serão fáceis. Nunca o são na União Europeia. Como poderiam ser? Sobretudo numa União que está a debater-se para encontrar o seu rumo após uma crise económica mundial em 2008 para a qual não estava preparada...”.

O novo Governo anunciou a suspensão dos processos de privatização, dos portos e aeroportos e das eléctricas. Quer também a recolocação dos funcionários públicos demitidos ou na mobilidade e aumentar o salário mínimo, o restabelecimento de electricidade para cerca de 300 mil famílias que deixaram de ter dinheiro pagar a conta da luz.

Ricardo Conceição já tinha estado em Atenas há 3 anos. O programa de austeridade imposto pela troika intensificou-se ao longo deste tempo. O jornalista explica que “se sentia que as pessoas estavam tristes em 2012”, quando lá esteve da outra vez. E que, desta vez, “parecia haver mais esperança no olhar das pessoas”. Tudo o resto são interrogações quanto ao futuro.

Pouco tempo depois da posse do novo Governo de Atenas, os mercados reagiram e as agências de “rating” ameaçaram descer a notação. O presidente da Comissão Jean Claude Juncker já veio avisar que o “ponto de partida” para novas negociações são “as regras estabelecidas” anteriormente de “comum acordo”. Francisco Sarsfield Cabral nota que “as primeiras medidas anunciadas não parecem mostrar grande abertura para o diálogo e, por outro lado, as posições de aproximação a Putin não parecem muito pró-europeias”. Segundo o especialista da Renascença em assuntos europeus, “os gregos têm um trunfo. É que, se a Grécia for à bancarrota, todos os europeus vão acabar por perder dinheiro”.

O que pode a União Europeia fazer? “Alongar prazos e baixar juros que já são baixos em Portugal. Mas se isso chega para contentar o Syriza é a dúvida, porque as promessas foram muito fortes”, alerta Sarsfield Cabral, que acha que a UE “não vai querer deixar cair a Grécia nem deixar que esta saia da moeda única”. Mas poderão ser feitos “pequenos acertos para quem ninguém perca a face”.

EU mantém aposta nas sanções para lidar com a Rússia
Os ministros dos Negócios Estrangeiros reuniram-se ontem de emergência em Bruxelas e decidiram prolongar as sanções à Rússia por mais seis meses, ainda por causa da situação na Ucrânia .

Bruxelas continua a exigir a Moscovo que não financie nem forneça armas aos rebeldes pró-russos. Trata-se de uma situação que continua sem fim à vista e a economia russa já começa a sentir os efeitos das sanções, associados à queda do preço do petróleo. Sarsfield Cabral recorda que se pensa que “o PIB russo vai baixar 5% este ano, o que não o torna um aliado bom para a Grécia”.

Bruxelas aposta na transparência
A União Europeia lançou esta semana o novo registo público das actividades de “lobby”. Uma iniciativa em que se pretende tornar mais transparente a actividade dos chamados “grupos de interesse” junto das instituições europeias. As organizações que se inscrevam neste “registo de lobistas” devem divulgar com quem se encontram e quanto gastam em actividades de “lobby”. Uma mudança explicada pelo eurodeputado português Carlos Coelho, em entrevista ao correspondente da Renascença em Bruxelas, Vasco Gandra.