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Ucrânia quer mais da UE e UE quer mais de Juncker

21 nov, 2014 • Ricardo Conceição/Francisco Sarsfield Cabral/Manuela Pires/Pedro Caeiro

Expectativa para o plano que Juncker promete apresentar para recuperar a economia europeia. No plano diplomático, os MNE aprovaram novas sanções contra os separatistas ucranianos pró-russos, mas, por cá, a Ucrânia pede mais acção.

Ucrânia quer mais da UE e UE quer mais de Juncker

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia decidiram aprovar novas sanções contra os separatistas pró-russos. A decisão foi tomada na sequência das eleições organizadas nas regiões separatistas no leste do país, no início do mês.

Não foram divulgados os nomes. Até agora, a lista de sanções inclui 119 pessoas, entre líderes separatistas e personalidades da política e dos negócios russos e 23 empresas e bancos. Mas “a União Europeia tem de fazer mais para ajudar a Ucrânia”. A opinião é deixada em entrevista à Renascença pelo encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia em Portugal.

Leonid Tretiak pede mais acção, à União Europeia. O diplomata diz que a prioridade é o fim das hostilidades no leste do país e garante que, até agora, a União Europeia apenas mostrou boas intenções e não se pode ficar apenas pelas palavras.

“Neste momento não chega apoiar a Ucrânia apenas através de palavras. É necessário agir, fazer alguma coisa. Temos de parar esta agressão e esta pressão, neste momento em que se encontra. E não deixar que ela se alastre pela Ucrânia para outros países europeus”, afirma Leonid Tretiak.

O encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia em Portugal dá até algumas ideias que podem ser seguidas por Bruxelas. A Ucrânia precisa de bens de primeira necessidade, de mais missões de observação, e as instituições europeias podem ainda ter um papel de mediador nas negociações de paz.

“As instituições europeias podem, em primeiro lugar, assumir o papel de mediadores nas negociações de paz entre todas as partes. Em segundo, é possível abrir mais missões de observação, não apenas missões de observação da OCDE. Terceiro, precisamos também de assistência material, não apenas financeira, mas de bens de primeira necessidade e de outras coisas de que precisamos para reconstruir as áreas destruídas do país e para renovar a economia da parte leste da Ucrânia, depois da época de cessar-fogo e do fim da guerra”.

Nesta entrevista à Renascença, Leonid Tretiak recusa conversações com os separatistas pró-russos e acusa Moscovo de adoptar um duplo discurso, uma vez que continua a armar os separatistas.

Quase mil pessoas morreram no leste do país desde o cessar-fogo assinado em Minsk em Setembro entre os separatistas e o Governo ucraniano. O número é apresentado pelo Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas, que fala ainda num colapso da ordem pública nas zonas separatistas de Donetsk e Lugansk e aponta, também, para fortes indícios de abusos cometidos pelas forças governamentais.

Semana de críticas e desconfianças…
Esta semana, a Renascença abordou a fundo a questão do Acordo Transatlântico que está a ser preparado. O acordo comercial e de investimento que a União Europeia está a negociar com os Estados Unidos poderá representar a perda de 90 mil postos de trabalho em Portugal. É o que revela um estudo citado pela eurodeputada Marisa Matias, relatora permanente do Parlamento Europeu para o acordo transatlântico.

Para além da perda de postos de trabalho “os impactos para Portugal traduzem-se em qualquer coisa como o decréscimo das exportações num período de 10 anos, uma redução significativa do PIB, o aumento do défice público, porque vai haver menos receitas fiscais de acordo com estas novas regras em termos da competição e da concorrência.

Francisco Sarsfield Cabral, especialista da Renascença em temas europeus, explica em que consiste este Acordo, que suscita muitas dúvidas, nomeadamente a questão da arbitragem, com a Europa “demasiado calada”.

Uma Europa economicamente doente e a precisar de medicamentos
O Banco Central Europeu voltou hoje a garantir que vai usar “todas as ferramentas que tiver disponíveis” para estimular a economia.

Durante uma intervenção esta manhã no Congresso Bancário Europeu, em Frankfurt, Mário Draghi disse que vai fazer tudo para elevar a inflação e as expectativas sobre a inflação tão breve quanto possível. De recordar que a inflação da Zona Euro estava nos 0,4% em Outubro. Ou seja, muito longe dos 2% em que o BCE já considera existir estabilidade de preços.

Parece, assim, em aberto a hipótese de uma alteração às políticas de estímulo que já estão no terreno. Apesar de o programa de compra de dívida pública – à semelhança do que fez a Reserva federal norte-americana – contar com oposição interna. De resto, ainda esta semana, um dos membros do Conselho de Governadores do BCE dizia estar muito “céptico” quanto à eficácia do plano norte-americano aplicado à Europa.

Certo é que, apesar de alguns altos responsáveis parecerem estar na dúvida, os mercados europeus reagiram positivamente esta manhã às declarações de Draghi.

Vêm aí os prometidos 300?
Está prometido para a próxima quarta-feira, o presidente da Comissão Europeia apresenta no Parlamento Europeu o pacote de investimentos públicos e privados de 300 mil milhões de euros, para os próximos três anos. Este plano é uma das bandeiras de Jean-Claude Juncker para o seu mandato com vista a impulsionar a economia europeia.

Enquanto se aguardam os pormenores deste plano, vão avançando valores propostos pelos vários grupos políticos. Os socialistas europeus querem muito mais. Exigem um plano de 800 mil milhões de euros. Enquanto os liberais acham que a solução pode sair um pouco mais barata: 700 mil milhões.

Para Francisco Sarsfield Cabral, “esta diferença tão grande de valores entre as três propostas mostra que também há divergências sobre a “solução mágica” para impulsionar a economia europeia”.

Ministro francês deixa recados para Portugal
Esta manhã, numa entrevista ao “Diário Económico”, o ministro francês das Finanças vem defender que “a política económica da Zona Euro deve ser adaptada à situação actual e deve ser definido um ritmo adequado de redução do défice”. Michel Sapin fala, ainda, na necessidade de relançar a harmonização fiscal na Europa e, concretamente sobre Portugal, o responsável pela pasta das Finanças de Paris admite que não havia outra solução senão aumentar impostos para conseguir um rápido equilíbrio das contas públicas.