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Conversas Cruzadas

União Europeia: "Quando é que não foi assim?"

19 jul, 2015

O "documento dos presidentes" sobre a na união económica e monetária foi  ofuscado pela crise grega, alerta Silva Peneda no programa “Conversas Cruzadas” da Renascença. O adjunto do presidente da Comissão Europeia, Jean Claude-Juncker, debate com Daniel Bessa, Carvalho da Silva e Álvaro Santos Almeida o futuro da Europa.

União Europeia: "Quando é que não foi assim?"
No programa "Conversas Cruzadas" da Renascença, Silva Peneda alerta para "documento dos presidentes" ofuscado pela crise grega. Adjunto de Juncker debate com Daniel Bessa, Carvalho da Silva e Álvaro Santos Almeida o futuro da Europa.

Silva Peneda viveu de perto as negociações para alcançar um acordo para resgatar novamente a Grécia. No programa “Conversas Cruzadas” da Renascença, fala num “processo que envolveu alguma incompetência e alguma má-fé”.

“Para complicar as coisas, de um lado e doutro, havia pessoas que não queriam um entendimento. Fez parte de um puzzle complicado para chegar à parte final, mas chegou-se à parte final”, diz o antigo presidente do Conselho Económico e Social (CES), que responsabiliza, “claramente” as autoridades gregas.

O antigo ministro da Economia Daniel Bessa considera que o acordo que evitou a saída da Grécia do euro deixa um “certo alívio, mas também uma convicção generalizada de que não faltará muito para a próxima crise”. 

“Já me pronunciei que a via da austeridade na Grécia até agora não deu resultado, não me parece que venha a dar e tenho de estar de acordo com Silva Peneda de que, por exemplo, alguma acção em matéria de  capacitação do Estado grego era muito bem-vinda”, defende o economista.

“Falta uma visão para o futuro da Europa”
A Europa precisa de uma “visão sistémica” para lidar com problemas que se “interligam entre si”, como a situação na Rússia, o terrorismo internacional ou a vaga de migrantes, afirma Silva Peneda.

“Continua-se a tentar resolver os problemas caso a caso e isso leva-nos a uma questão de fundo, que é a falta de uma visão para o futuro da Europa. É algo que do ponto de vista político está a ser atacado. Tudo isto passou despercebido porque a Grécia acaba por dominar todas as atenções mas, por exemplo, os cinco presidentes – da Comissão Europeia, Parlamento Europeu, Eurogrupo e do Banco Central Europeu – publicaram um relatório conjunto sobre um outro problema fundamental e interno, que tem a ver com a divergência na união económica e monetária”, diz o conselheiro especial do presidente da Comissão Europeia.

O “documento dos presidentes” tem a ver com “concluir e balancear” uma união económica e monetária, que deve ser desenvolvida “de uma forma equilibrada em termos económicos financeiros, orçamentais e políticos.

O economista e ex-quadro do FMI Álvaro Santos Almeida considera que “temos hoje uma Europa claramente mais federalista do que era há seis meses”.

“Contrariamente ao que a maior parte das pessoas diz, eu acho que estas semanas foram uma vitória do espírito europeu e a União Europeia está muito mais forte do que estava antes deste processo. Numa altura em que há fortes movimentos nacionalistas nos países do norte da Europa que querem a Grécia fora  do euro, nesse contexto a União Europeia fez todos os esforços para manter a Grécia dentro do euro”, diz Álvaro Santos Almeida, para quem “o sonho de uma União Europeia federal nunca foi mais forte do que neste momento”.

O sociólogo Manuel Carvalho da Silva contrapõe que “nada está resolvido”, apesar do acordo para resgatar a Grécia, e considera “dramática a lógica de se fazer as coisas debaixo do medo”.

“Eu quero acreditar que Europa avançou culturalmente e civilizacionalmente mais do que aquilo que o Dr. Santos Almeida está a admitir quando coloca estes caminhos, porque no contexto actual isso é muito perigoso. Não há federação. É evidente que veio ao de cima um espírito federalistas para responder ao problema, mas nada está resolvido”, alerta Carvalho da Silva.