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"Eles crucificaram Tsipras lá dentro". Os bastidores da cimeira

13 jul, 2015

O sol nascia, a saída da Grécia parecia inevitável. Mas o presidente do Conselho Europeu não deixou que ninguém abandonasse a reunião. E, com Tusk, Hollande, Tsipras e Merkel, alcançou-se um acordo. O relato de negociações duríssimas pelo "Financial Times".

"Eles crucificaram Tsipras lá dentro". Os bastidores da cimeira

Ao fim de 14 horas de reunião entre chefes de Estado e de Governo da Zona Euro, o primeiro-ministro da Grécia e a chanceler alemã chegaram à conclusão que tinham chegado a um beco sem saída. Quando o sol começava a raiar na capital belga, a saída da Grécia do euro ("Grexit") era "a única opção realista".

Alexis Tsipras e Angela Merkel já se preparavam para sair da sala quando o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, impôs-se: "Desculpem, mas de forma nenhuma vocês vão sair desta sala."

O relato é do "Financial Times" (FT). A edição "online" do jornal especializado em economia conta o que aconteceu nos bastidores da cimeira de domingo, que só terminou já de manhã.

As "negociações angustiadas" duravam longas horas, marcadas também pela falta de sono. "À medida que as horas passam e o domingo virava segunda-feira, a perspectiva de um 'Grexit' tornava-se mais provável", escreve o FT, que falou com participantes na cimeira.

Segundo o FT, o grande motivo do impasse era o fundo das privatizações.

Angela Merkel queria que 50 mil milhões de euros das receitas geradas por privatizações de bens gregos fossem destinados ao pagamento da divida, mas o primeiro-ministro grego considerou uma humilhação ceder o controlo de activos que representam quase um terço do PIB grego. Tsipras propôs antes a criação de um fundo mais pequeno, cujas receitas seriam reinvestidas na Grécia.

Foi o Presidente francês François Hollande que procurou uma solução para este diferendo, promovendo um encontro entre Merkel, Tsipras e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. Mais tarde, aos jornalistas, Hollande diria que o apoio dado a Tsipras na questão do fundo das privatizações era uma questão de "soberania".

"Nada poderia ser pior que a humilhação da Grécia, que não procurou caridade, mas sim solidariedade da zona euro", afirmou Hollande.

O acordo foi alcançado. Para trás ficaram "algumas das mais exaustivas e angustiantes" da história da construção europeia, refere o "Financial Times".

Ao longo do fim-de-semana houve, segundo o FT, intervenções duras dos ministros das Finanças finlandês e alemão ("não sou um idiota", disse ao presidente do Banco Central Europeu) e um "sermão" do primeiro-ministro eslovaco a Tsipras (a que o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, se opôs).

"Eles crucificaram Tsipras lá dentro", disse ao FT um responsável da Zona Euro que assistiu à cimeira. "Crucificaram-no."