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Por que motivo é que os Papas escolhem um novo nome?

13 mar, 2013 • Filipe d'Avillez

São Pedro foi o primeiro que mudou de nome, algo que os sucessores não fizeram durante centenas de anos. Mais tarde, entre os séculos VI e XVI, tornou-se um hábito intermitente e acabou depois por ser comum. Escolha de um nome ajuda a desvendar as prioridades de um pontificado.

Por que motivo é que os Papas escolhem um novo nome?
A primeira decisão que um novo Papa toma não tem que ver com o Governo da Igreja ou com questões teológicas. É sim qual o nome pelo qual quer ser conhecido. 

O primeiro Papa a adoptar um novo nome foi o primeiro, São Pedro. Originalmente chamado Simão, o nome foi-lhe mudado por Jesus quando este lhe disse que era sobre ele que iria edificar a sua Igreja, chamando-o então Pedro, que significa "pedra" ou "rocha".

Até ao sexto século, todos os Papas usaram o seu nome de baptismo. O primeiro a mudar depois de São Pedro foi Mercuriano, que adoptou o nome João II por considerar que o seu nome, escolhido em homenagem ao deus romano Mercúrio, não era adequado para um Vigário de Cristo. O hábito foi intermitente daí em diante, mas desde Marcelo II, no século XVI, que todos os Papas adoptam novos nomes.

Os nomes têm necessariamente um significado e o mais provável é que os cardeais que sabem que têm possibilidade de ser eleitos já tenham pensado no que vão adoptar. Na base da decisão pode estar uma ligação aos antecessores, como foi o caso de João Paulo II, que sucedeu a João Paulo I, ou pode estar a intenção de querer evocar a memória e o legado de um anterior Papa ou de um santo do mesmo nome. Foi este o caso de Bento XVI, que tanto queria evocar Bento XV, que reinou durante um período de crise na Europa durante a Primeira Guerra Mundial, como o de São Bento, que evangelizou grande parte da Europa, criando os mosteiros beneditinos.

Assim, é desde logo possível fazer uma leitura das prioridades do novo Papa com base na escolha do novo nome. Um Paulo VII, por exemplo, pode indicar a urgência da evangelização que levou o apóstolo a viajar por todo o mundo para pregar aos gentios. Já João XXIV pode ter múltiplas leituras, incluindo a necessidade de cumprir o Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII.

Há vários exemplos de Gregórios que ajudaram a Igreja a atravessar momentos de crise e Leão XIV pode ser entendido como uma necessidade de combater o racionalismo, como fez Leão XIII no seu tempo, reforçando a fé.