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"Amar a Igreja significa ter coragem de fazer escolhas difíceis"

27 fev, 2013 • Filipe d’Avillez

Bento XVI despediu-se esta quarta-feira de centenas de milhares de pessoas, num clima de festa marcado também por um sentimento de saudade.  

"Amar a Igreja significa ter coragem de fazer escolhas difíceis"
MIllhares de pessoas assistiram esta quarta-feira na Praça de São Pedro à última audiência geral de Bento XVI. O Papa recordou que o pontificado teve momentos de alegria, mas também agitados, e que "amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas dificeis, sofridas, pondo sempre na frente o bem da Igreja e não o seu próprio."
Na última aparição pública enquanto Papa, Bento XVI, que resigna esta quinta-feira a partir das 20h00 (19h00 em Lisboa), procurou tranquilizar os fiéis acerca da sua decisão, repetindo que se tratou de uma escolha muito rezada.

"Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, sofridas, tendo sempre presente o bem da Igreja e não o nosso", começou por explicar esta quarta-feira Bento XVI aos fiéis que se reuniram na Praça de São Pedro para se despedir.

"Nestes últimos meses, senti que as minhas forças estavam diminuídas e perguntei a Deus insistentemente, na oração, que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para mim, mas para o bem da Igreja. Fi-lo com plena consciência da gravidade e até da novidade, mas com profunda serenidade de espírito", disse. 

A decisão do Papa tem sido marcada por muita discussão acerca do estado da Cúria Romana, com muitos a especular sobre a existência de escândalos e de intrigas e a trazer à memória casos como o Vatileaks. Bento XVI referiu também a existência destes momentos tempestuosos e utilizou a imagem evangélica dos apóstolos no barco.

O Papa disse mesmo que, ao longo destes oito anos, sentiu várias vezes que a barca da Igreja navegava sobre mares calmos e tranquilos, onde a pesca sobejava, mas noutras sentia que estava num mar tempestuoso e que Jesus aparentava estar a dormir. Contudo, mesmo nesses tempos difíceis, o Papa afirmou que sempre sentiu "que a barca é de Cristo e que Ele não o deixará afundar".

“É por isso que hoje o meu coração está cheio de gratidão para com Deus, porque nunca falhou com a Igreja e a mim sempre me deu a sua consolação, a sua luz e o seu amor."

Quanto ao seu futuro, Bento XVI, que vai passar a ser conhecido como "Papa emérito", voltou a dizer que será dedicado à oração, mas que isso não é uma traição à sua promessa de se dedicar a Deus para sempre: "Não há um regresso à vida privada. A minha decisão de renunciar ao exercício do ministério activo não altera isto. Não regresso à vida privada, a uma vida de viagens, reuniões, recepções, conferências e assim por diante".

Um Papa que também abraça a Cruz 
A resignação de Bento XVI tem sido várias vezes comparada com a decisão de João Paulo II de aguentar até ao fim, apesar da sua fragilidade física. “Não negligencio a Cruz, mas configuro-me de uma maneira diferente no Senhor crucificado", disse esta quarta-feira o Papa.

"Já não sou portador do poder do Governo da Igreja, mas continuarei, por assim dizer, no recinto de São Pedro, ao serviço da oração. São Bento, cujo nome uso enquanto Papa será para mim um grande exemplo, mostrou-nos o caminho para uma vida que, activa ou passiva, pertence inteiramente à obra de Deus."

O Papa agradeceu ainda aos cardeais os conselhos e o apoio que sempre lhe deram e nomeou, de modo especial, o secretário de Estado, Tarcísio Bertone. "Acompanhou-me fielmente ao longo de todos estes anos", referiu Bento XVI. O Cardeal Bertone tem sido alvo de muitas críticas, mesmo por parte de outros cardeais.

Bento XVI agradeceu também de forma especial à sua diocese de Roma, mas também todas as pessoas que o receberam durante as suas visitas pastorais em vários pontos do mundo, tendo dito mesmo que nunca se sentiu só. O Papa recordou ainda as milhares de mensagens que recebeu nas últimas semanas.

O Papa ficou visivelmente emocionado com a maneira como a vasta multidão, proveniente de várias partes do mundo, o acolheu e aplaudiu durante a sua despedida.