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Opinião

Costa nas mãos de Sócrates?

05 set, 2015 • Eunice Lourenço

A justiça e o líder socialista dão sinais de separação das águas, mas Sócrates e o seu séquito mostram que não é esse o seu caminho.

Esta já era uma campanha eleitoral contaminada pelo caso Sócrates e agora ainda pode ser mais. Depende em grande parte da vontade do próprio ex-primeiro-ministro e os sinais que foi dando a partir de Évora não são bons sinais para o PS.

José Sócrates colocou os seus interesses próprios acima do interesse do PS. A sua argumentação de que é um preso político e que todo este processo é uma manipulação para prejudicar os socialistas e impedir o regresso do partido ao poder só prejudicam a própria campanha socialista e contrariam as posições públicas de António Costa.

A mudança de José Sócrates da prisão preventiva no estabelecimento prisional de Évora para uma casa em Lisboa era esperada, tendo em conta a última revisão da medida de coacção. Foi um bom sinal que tenha acontecido esta sexta-feira e não no limite do prazo, dia 9, data do primeiro debate entre António Costa e Pedro Passos Coelho.

A  reacção de António Costa também foi boa. Calma, sem ser numa acção de campanha, realista, reconhecendo a relevância mediática do caso, mas esperando que os portugueses saibam distinguir os planos político e judicial.

O actual líder socialista tem insistido na separação entre a política e a justiça. Mas sabe bem que quanto mais o caso judicial de Sócrates ocupar o espaço público, menos atenção terão a sua campanha e o programa socialista.

Acresce ainda, para António Costa, o problema dos chamados socráticos, como José Lello, que manifestaram grande euforia com a mudança de Sócrates de Évora para Lisboa como se o antigo primeiro-ministro tivesse sido libertado e ilibado de todas as suspeitas.

Se a justiça e o líder socialista dão sinais de separação das águas, Sócrates e o seu séquito mostram que não é esse o seu caminho.

E até escolha do hotel onde os seus advogados dão este sábado uma conferência de imprensa - o Altis, morada habitual das noites eleitorais do PS e local da sua última derrota nas legislativas de 2011 - poderia ser apenas uma coinciência, mas parece-me mais um sinal de como José Sócrates quer continuar a implicar o PS no seu processo.