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Sector privado

Austeridade tira um salário a portugueses que levam 1.046€ para casa

17 jan, 2013 • Germano Oliveira

Há ainda casos em que ganhar mais nem sempre tem vantagens: um salário bruto de 810 euros pode resultar num valor líquido inferior a quem aufere 800.

Austeridade tira um salário a portugueses que levam 1.046€ para casa

Um contribuinte solteiro do sector privado, sem filhos e com um salário bruto de 1.545 euros, montante que se traduz este ano num vencimento de 1.046 euros depois das retenções de IRS e dos descontos para a segurança social, vai perder mais de um salário líquido em 2013 com as medidas de austeridade. Se for um contribuinte casado (dois titulares) do privado e não tiver filhos - e mesmo que tenha um - perde uma quantia igual.

Em 2012, os 1.545 euros brutos valiam 1.121 líquidos mensais nestes casos. Devido ao "enorme aumento de impostos" deste ano, o salário que vai para casa encurta cerca de 75 euros, para os referidos 1.046. Não há qualquer diferença ao nível dos descontos para a segurança social, mas a retenção de IRS sobe de 254 para 309 euros. Por outro lado, há ainda uma sobretaxa mensal de IRS de 20,34 euros para pagar. No final deste ano, e em vez de descontarem os 5.935 euros acumulados ao longo de 2012, entregam ao Estado 6.990 euros - mais 1.055, valor superior ao salário líquido que vão auferir em 2013.

Se estes contribuintes aceitarem diluir metade do subsídio de férias e de Natal - os chamados "duodécimos" -, vão receber mensalmente 1.133 euros líquidos. Mas trata-se de um falso aumento salarial, porque em Junho e em Dezembro recebem apenas metade dos subsídios. No fim do ano, perdem mesmo os 1.055 euros.

Acima dos 1.545 brutos, acentua-se a tendência para se perder um salário ou mais quando se simulam casos do privado relativos a solteiros sem filhos ou a casados (dois titulares) sem dependentes ou com um. Ainda assim, há nuances: por exemplo, se o rendimento for de 1.619 euros brutos (que dá 1.096 após os descontos), a perda em 2013 não chega a um salário líquido, mas é como se fosse - é de 1.094 euros ao fim do ano. Abaixo dos 1.545, há igualmente situações semelhantes em que não chega a um salário líquido, mas quase.

Por sua vez, um contribuinte casado do sector privado (dois titulares), mas com dois filhos, vai perder este ano o equivalente a um vencimento líquido se auferir 1.548 euros brutos. Os solteiros do privado com um ou dois filhos e com este salário bruto são penalizados da mesma forma. Nestes casos, vão levar para casa 1.063 euros mensais em 2013 após as retenções de IRS e descontos para a segurança social, menos 76 euros que os 1.139 que levavam em 2012. Ao longo deste ano, vão ter de descontar mais 1.063 euros que no ano passado. Contas feitas, há menos um vencimento líquido em casa. Se quiserem receber os duodécimos, o líquido passa a ser de 1.151 euros, mas a perda no final do ano não muda.

Para os casados do privado (dois titulares) com dois filhos ou para os solteiros com um ou dois dependentes, é sobretudo a partir dos 1.580 euros brutos que se começa a perder tendencialmente um salário líquido ou mais. Abaixo deste patamar, também há situações em que as perdas não são de um vencimento, mas quase.

As tabelas de retenção na fonte têm ainda outras particularidades. Por exemplo, um contribuinte casado do privado (dois titulares) com dois filhos e um vencimento bruto de 810 euros leva menos para casa que outro contribuinte com o mesmo perfil, mas com salário bruto de 800. O casado com 810 euros vai passar a ter um salário líquido de 634 em 2013, menos 34 euros mensais que no ano passado. O casado com 800 brutos vai auferir 654 euros líquidos, menos 22 que em 2012. O motivo prende-se com o facto de haver uma subida da taxa de retenção a partir dos 801 euros, algo que se repete também no caso dos solteiros.

Se quiser fazer as suas contas, pode saber mais AQUI.


[artigo actualizado às 23h32]