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Diálogo com terroristas? Papa diz que é difícil, mas a porta está sempre aberta

26 nov, 2014

Francisco confirma que ordenou investigação a alegado caso de abusos sexuais que levou à detenção de três padres espanhóis.

Diálogo com terroristas? Papa diz que é difícil, mas a porta está sempre aberta

O diálogo com movimentos terroristas é quase impossível, mas a porta está sempre aberta, declarou o Papa, esta terça-feira, durante o voo de regresso a Roma após uma visita histórica às instituições europeias, em Estrasburgo.

“Eu nunca dou uma coisa por perdida, nunca. Talvez não se consiga manter um diálogo, mas nunca fecho a porta. É difícil, para não dizer impossível, mas a porta está sempre aberta”, disse Francisco aos jornalistas.

Numa altura em que o movimento extremista Estado Islâmico controla partes do Iraque e da Síria, o Papa reafirma que a luta contra o terrorismo passa por “travar o agressor injusto”, com um “consenso internacional”, porque nenhum país tem o direito de agir de forma unilateral.

“Quando cada Estado, por sua conta, se sente no direito de massacrar os terroristas, com os terroristas caem muitos que são inocentes. Isto é uma anarquia de alto nível que é muito perigosa”, frisou.

O terrorismo é “uma das muitas coisas” que ameaçam a humanidade, da mesma forma que a “escravidão, uma realidade inserida no tecido social de hoje”, salientou Francisco.

“O trabalho escravo, o tráfico de pessoas, o comércio de crianças… É um drama, não fechemos os olhos a isto, a escravidão é hoje uma realidade, a exploração das pessoas”, alertou.

Papa ordenou investigação a alegado caso de abusos
Nestas declarações aos jornalistas a bordo do avião papal, Francisco também falou abertamente sobre a detenção de três padres e um professor de religião no âmbito de um caso de alegados abusos sexuais, em Granada, Espanha.

O Papa confirmou que interveio pessoalmente no caso que levou à detenção dos quatro suspeitos, depois de um jovem de 24 anos lhe ter escrito a contar o que lhe acontecera.

“Recebi [a carta], li isso, telefonei à pessoa e disse-lhe: ‘tu amanhã vais ter com o bispo’. E escrevi ao bispo para que começasse o trabalho, a fazer as investigações e a levar o caso por diante. Como o recebi? Com grande dor, gravíssima dor, mas a verdade é a verdade e não a devemos esconder”, disse o Papa aos jornalistas.

Francisco visitou esta terça-feira as instituições europeias em Estrasburgo, França. No Parlamento Europeu, dirigiu-se a todos os cidadãos europeus para deixar uma "mensagem de esperança e encorajamento". Mas no seu discurso, além de traçar um retrato de uma Europa "envelhecida e engelhada", deixou vários recados sobre a importância da família, da educação, das políticas de trabalho e da protecção da dignidade humana.