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Imprensa internacional destaca dimensão social do discurso do Papa à Europa

25 nov, 2014 • Filipe d'Avillez, em Estrasburgo

Em Portugal a visita histórica do Papa às instituições europeias ficou para segundo plano, devido à prisão preventiva de José Sócrates. Na Europa o maior destaque foi dado pela imprensa francesa.

Imprensa internacional destaca dimensão social do discurso do Papa à Europa

Os dois discursos do Papa Francisco proferidos esta terça-feira nas instituições europeias com sede em Estrasburgo abordaram uma grande panóplia de assuntos, dando aso a coberturas mediáticas muito diferentes.

Dos principais meios de comunicação internacionais foram poucos os que ignoraram um evento que aconteceu pela última vez há 26 anos. Foi, no entanto, o caso do "site" do Telegraph e do "Boston Globe", embora este último tenha a desculpa de ter um "site" subsidiário, o "Crux", dedicado unicamente a questões ligadas à Igreja Católica, que naturalmente dá todo o destaque à visita. O vaticanista John Allen Jr., que esteve presente em Estrasburgo, diz que o Papa mandou a Europa: "Meter a casa em ordem, social e religiosamente".

O "New York Times" não dá muito destaque ao Papa, mas sublinha o seu apelo à abertura das fronteiras aos imigrantes, que o jornal americano descreve como refugiados. Este assunto foi sem dúvida um dos que mais atenção chamou, sobretudo de jornais de tendência mais liberal ou de esquerda. É o caso do "Guardian", que diz simplesmente que o Papa "atacou a Europa por causa da sua postura em relação à imigração" e do "El Pais" que destaca a frase em que Francisco disse que o Mediterrâneo não se pode tornar um grande cemitério, aludindo aos horrores dos naufrágios de barcos cheios de imigrantes ilegais. Já o ABC, de direita, escolhe a referência do Papa à "doença" social que é a solidão na Europa.

O português "Diário de Notícias" também escolhe a mesma frase do [http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4259596] cemitério do Mediterrâneo para o seu destaque. Contudo o DN, tal como todos os órgãos nacionais, incluindo a Renascença, colocam as notícias sobre o Papa abaixo do grande tema do dia, a prisão preventiva de José Sócrates. O "Público" não foge à regra, tendo escolhido para título a crítica do Papa ao sistema social que coloca a economia no centro e não a pessoa.

Para pleno destaque nos jornais generalistas, com direito a manchete, é preciso ir aos sites franceses, como por exemplo o "Le Monde" e o "La Croix". O primeiro puxa para manchete o apelo ao Parlamento Europeu para que abrace os valores humanistas, e o segundo é dos únicos órgãos que coloca em título o discurso ao Conselho da Europa, apelando a que se continue a trabalhar para a paz.

Os discursos do Papa são o principal destaque das duas principais revistas católicas do Reino Unido, o "The Tablet", de tendência mais liberal e o "Catholic Herald", mais conservador, na medida em que estes epítetos políticos se aplicam ao religioso.

O "Tablet" prefere a referência à Europa envelhecida e ao apelo do Papa para que a dignidade humana seja colocada no centro das políticas, enquanto o "Herald" cita a frase em que o Papa lamenta que os seres humanos ainda não nascidos e os doentes terminais sejam tratados como objectos na Europa.