Emissão Renascença | Ouvir Online

Fernando J. Regateiro

Misturas "estrondosas" e falta de ousadia

29 mai, 2014

Do lado do PS, foi um erro ter lançado compromissos próprios de legislativas durante as europeias. E também foi errada a designação de vitória “estrondosa”, para resultados que não traduzem uma capitalização clara do desagrado dos portugueses com o Governo. 

Os partidos da coligação PSD/CDS que suporta o Governo tiveram, há dias, o pior resultado de sempre em eleições europeias – os 40% de 2009 desceram para menos de 28%. Ainda assim, ficaram animados, já que a diferença em relação ao PS nem chegou a 4%.

Um PS que sonhava com uma votação expressiva, ficara-se pelos 31,5%. Tendo subido em relação a 2009, aparecia como derrotado.

Tudo o resto já lá vai – os mais de 7% de votos anti-sistema no MPT com Marinho Pinto, o descalabro do BE, com apenas 4,5%, e até os dramáticos 66% das abstenções.

Do lado do PS, foi um erro ter lançado compromissos próprios de legislativas durante as europeias. E também foi errada a designação de vitória “estrondosa”, para resultados que não traduzem uma capitalização clara do desagrado dos portugueses com o Governo. 

A mistura entre os dois tipos de eleições deu azo aos críticos de Seguro para considerarem os resultados como uma “estrondosa” derrota, à luz das próximas legislativas, e para compararem os magros 31,5% com os 36,3% das autárquicas e com os folgados quase 51% de Costa em Lisboa.

O empate técnico entre PS e PSD/CDS antecipado para as próximas legislativas, por uma sondagem sobre intenções de voto, foi a cereja em cima do bolo. Era o momento de António Costa arriscar todo o seu peso político e desafiar a liderança na primeira pessoa. O que fez, de forma peremptória. Seguro reagiu da pior forma – sem noção do tempo político, sem ousadia, como líder instalado numa legitimidade de legitimação recente. Mas o desafio fora, exactamente, político! E a resposta teria de ser política. E fulminante.

Agora, e como sempre, a falta de ousadia fará o resto – tornar as coisas difíceis!