07 ago, 2012 • Ricardo Vieira
Tem alcunha de aviador famoso, mas o seu mundo é o dos negócios. Alexandre Alves esteve na ascensão e queda da maior empresa de ar-condicionado do país, entrou na corrida à liderança do Benfica e agora voltou a ser notícia por causa de um contrato milionário rasgado pelo Governo.
Conhecido como "Barão Vermelho" por causa dos seus dois amores, o Benfica e o Partido Comunista, João José Alexandre Alves é o patrão da RPP Solar, que perdeu o apoio do Estado para a construção de fábricas de painéis fotovoltaicos em Abrantes, projecto avaliado em 1.052 milhões de euros.
A história deste homem de negócios português começa a ser escrita nos tempos do Processo Revolucionário em Curso (PREC), iniciado com o 25 de Abril de 1974, quando integrou o grupo de trabalhadores que fez a reconversão revolucionária da empresa que mais tarde haveria de se chamar FNAC – Fábrica Nacional de Ar Condicionado.
A empresa cresceu, movimentou milhões, empregou centenas de pessoas e Alexandre Alves estava em alta. "Considero-me uma história de sucesso, na base de muito trabalho e é o resultado desse trabalho. Não enjeito, de maneira nenhuma, que é uma história de sucesso", disse, sem falsa modéstia, em Março de 1992, numa entrevista à RTP.
Mas o rumo começou a mudar nesse mesmo ano. O "Barão Vermelho" concorreu à presidência do Benfica e perdeu o duelo com Jorge de Brito. Meses depois, saiu da liderança da FNAC, com a empresa à beira da falência.
"Liberalizámos tudo e os japoneses passaram a entrar no mercado europeu. Não era possível [continuar], quando nós fazíamos 50 mil aparelhos e os japoneses faziam 500 mil", justificou Alexandre Alves, em 2009, em declarações à SIC.
Polémico e sem papas na língua
Alexandre Alves esteve envolvido no projecto do jornal "O Europeu" e nos primeiros passos da rádio TSF. Depois da saída da FNAC, o "Barão Vermelho" fundou, em 1993, o grupo RPP – Retail Parks Portugal, que desenvolveu e promoveu parques de comércio a retalho em Leiria, Aveiro, Portimão e Santarém.
Nos últimos anos, Alexandre Alves foi notícia por falências de empresas, processos judiciais, alegadas investigações aos seus negócios e até pela sua declaração de rendimentos.
Polémico e sem papas na língua, chegou a criticar os deputados por não marcarem presença na assinatura de um protocolo entre a RPP Solar e o Instituto do Emprego, afirmando que preferem debater o caso Face Oculta e os direitos dos homossexuais.
"Convidei os deputados todos, de uma ponta à outra, do Bloco de Esquerda, PC, PS, PSD e ao CDS, e não puseram cá os pés. Eu não tenho escutas para eles ouvirem, não tenho maricas ao pé de mim, portanto, não querem nada disso", declarou em Janeiro de 2010.
A controvérsia continua em 2012, com o Governo a desistir do negócio das fábricas de energia solar de Abrantes e a pedir a devolução dos incentivos financeiros que o empresário terá recebido, mais juros compensatórios. Alexandre Alves já disse que não recebeu "um cêntimo" do Estado.
O ex-presidente da AICEP, entidade do Estado que assinou o contrato, já deu a sua versão dos factos. "Da parte da AICEP, enquanto eu lá estive, a empresa [de Alexandre Alves] não recebeu um tostão", garantiu Basílio Horta.