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Portugal tem mais de dois milhões de pobres. E o número não pára de crescer

17 out, 2011

Os números são de 2009 e as instituições de solidariedade esperam que aumentem nos próximos tempos.

Portugal tem mais de dois milhões de pobres. E o número não pára de crescer
Os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre pobreza, referentes a 2009, apontam para a existência de dois milhões de pobres em Portugal.

As instituições de solidariedade social visitadas pela Renascença revelam que os pedidos de ajuda estão a aumentar e que são cada vez mais os portugueses que pedem comida.

“Estamos a cobrir as famílias em que o casal está desempregado e as famílias monoparentais – normalmente, acontece terem três ou quatro filhos. Temos ainda situações em que há avós desempregados, com uma ou duas filhas desempregadas e, portanto, temos aqui já os netos”, conta Irene Montenegro, voluntária e coordenadora do serviço da cantina social da Santa Casa da Misericórdia de Braga.

O desemprego é a principal razão dos novos pedidos de ajuda, adianta. A cantina está a funcional há pouco mais de um mês e dá uma resposta de emergência às famílias em dificuldades. Todos os dias, perto de meia centena de pessoas passam por lá – a sopa, o prato, a sobremesa e o pão estão assegurados e, esticada, esta refeição serve por vezes também de jantar.

“Venho buscar para almoçar em casa. Quando sobra a sopinha, guardo-a para a noite e frito dois ovitos ou uma latinha de salsichas”, confessa uma utente.

Mais abaixo, em Setúbal, a realidade não é muito diferente. Há mais gente a recorrer ao Banco Alimentar e já são 40 as instituições em lista de espera. O presidente deste Banco Alimentar, António Alves, assume-se frustrado por não poder chegar a mais gente.

E deixa uma crítica: “As coisas vão complicar-se bastante, porque isto são medidas que eu nunca me lembro de ter visto. Já tenho idade suficiente e já passei, desde 1932, por situações complicadas. O que nós precisávamos era de crescimento económico, isso toda a gente diz e toda a gente percebe, mas temos medidas que vão aumentar a recessão”.

A mesma opinião tem o director executivo da CAIS, instituição que ajuda os sem-abrigo.

“Eu acredito que o Governo está a agir debaixo de uma pressão muito grande, creio que não tem tido tempo para reflectir nem sequer encontrar as melhores medidas. O que é mais fácil fazer é ir buscar o dinheiro onde ele se encontra ainda e onde ele está é nos bolsos de quem trabalha, de quem é pago com alguma regularidade no fim do mês. Mas acho que não é esse o caminho que se deva unicamente fazer. Creio que é preciso pensar nas pessoas, pensar num projecto para Portugal, é preciso que as pessoas percebam para onde estamos a ser arrastados ou levados”, afirma à Renascença.

Hoje, assinala-se o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza. Na Europa, cerca de 43 milhões de pessoas estão em risco de carência alimentar, sem meios para pagar uma refeição completa, e 79 milhões vivem abaixo do limiar da pobreza (dados do Programa Europeu de Apoio Alimentar).